
Certo dia, o rei requisitou a presença do Mestre à sua presença.
- Vossa majestade… - cumprimentou o Mestre, com um vénia - chamaste-me à vossa presença…
- Chamei sim, Mestre… preciso de um conselho vosso… vinde, vamos caminhar um pouco…
Saíram os dois para o jardim.
- Mestre… -começou o rei - já me conheceis há muito tempo… e sabeis que tenho tentado, ao longo de toda a minha vida, fazer o melhor para o reino…
- É verdade, majestade… temos vivido tempos de grande prosperidade…
- Sim, Mestre… prosperidade… e também paz. Os campos são generosos, o gado aumenta a cada dia que passa, os aldeões não passam fome… mas não é sobre isso que preciso do vosso conselho…
O Mestre sorriu, como se quisesse transmitir-lhe algo.
- Mas também suponho que havíeis percebido isso…
- Majestade… não seria correcto da minha parte antecipar-me às vossas palavras…
Foi a vez do rei se deixar rir, bem disposto.
- Mestre… na verdade, vós sois… único. Mas adiante… não vos quero tomar mais tempo que o necessário… preciso da vossa opinião sobre a minha sucessão…
- Um assunto delicado, majestade…
O rei perdeu o sorriso. A sucessão ao trono era, na verdade, um assunto delicado. Não por deixar em causa a continuação da linhagem ou a segurança do reino… mas simplesmente por ter que decidir entre quais dos seus dois filhos gémeos… pesaria o fardo da coroa.
- São os dois uns óptimos filhos… ambos plenos de virtudes e bons amigos… o que me deixa deveras apreensivo… necessito da vossa opinião, Mestre…
- Majestade… não sei como vos poderei ajudar, em tão delicada escolha… mas decerto haveis já reflectido bastante sobre o assunto…
- Reflectir? Mestre… se houvera uma guerra com algum dos nossos vizinhos, eu entregaria de olhos fechados o reino ao príncipe Alberto, o melhor cavaleiro que este reino já conheceu… mas se precisasse de transformar uma ruína num palácio, ou multiplicar uma semente por cem… eu escolheria sem a menor dúvida o príncipe Damião…
- Uma escolha difícil, majestade… uma vez que as virtudes se completam…
- Mestre… se eu pudesse … ambos são o sucessor perfeito… e ainda por cima, são excelentes amigos, para minha paz e fortuna.
O Mestre sorriu de novo, e estendeu o dedo na direcção do rei.
- Majestade… vós sois na verdade deveras perspicaz… acredito que já haveis descoberto a vossa resposta…
- Já descobri? Mas eu…
O mestre continuou a sorrir, os olhos brilhantes. O rei deixou-se contagiar por aquele brilho e passando a mão pela barba grisalha, murmurou:
- Mestre… creio que me haveis dado uma excelente ideia…
O mestre abanou a cabeça, afirmativamente. Afinal de contas, que importância teria de onde partisse a ideia?
- Majestade… sempre haveis sido um monarca justo e sensato … nunca duvidei que a vossa escolha fosse a mais sábia …