
Maré baixa.
Uma língua de areia branca, em forma de quarto-crescente, prolongava-se mar adentro, como um tentáculo rodeado de espuma branca.
O mar, sempre caprichoso, polvilhava de pequenas ilhas toda a bacia, durante a maré baixa, reproduzindo um rendilhado azul e branco, com as pequenas ondas a desfazerem-se em espuma em todas as efémeras praias, de encontro às rochas cobertas de lismos verdes, mexilhões e percebes.
Avançou até ao final da língua de areia. De um lado, uma quantidade infindável de pequenos seixos rolados, de todas as formas, cores e tamanhos; do outro, areia finíssima, reflectindo o sol de um branco ofuscante.
Inclinou-se e apanhou uma das inúmeras pedras.
- Tão diferentes… como é possível serem todas tão diferentes? - murmurou.
Deixou-a rolar por entre os dedos, para soltar a areia.
A pequena pedra, de forma quase esférica, parecia ter sido formada pela fusão quase perfeita de duas metades - uma completamente negra, outra de um branco imaculado.
- Que equilíbrio… - pensou para consigo próprio.
Uma onda mais atrevida veio tocar-lhe os pés descalços. As conchas mais leves, em alegre rodopio, rolaram sobre si próprias, num estranho bailado de cores… irrepetível a cada nova onda, a cada nova maré.
O apanhador de pedras guardou o seu pequeno tesouro no bolso dos calções e seguiu tranquilo o seu passeio à beira-mar.
Amanhã, numa nova maré, outra pequena pedra, de outras formas e cores, lhe chamaria a atenção. Todas tão únicas e diferentes como as dunas de areia da praia, empurradas pelo vento.
O que tinham todas elas de especial?
Nada.
Especial, quando muito… poderiam ser os olhos que reparavam nelas…