
Um político bem conhecido resolveu aproveitar aquela tarde ensolarada de domingo para fazer um pouco de campanha, já pensando nas próximas eleições. Convocou os seus assessores mais próximos e rumou ao jardim da cidade, contando encontrar as típicas famílias a merendar no parque, acompanhadas de crianças, jogos de bola e passeios de bicicletas.
Mal se aproximou do pequeno lago, junto da entrada do jardim, reparou que um imenso bando de pombos rodeava uma figura já de certa idade que, tranquilamente, ia atirando grãos de milho, de uma sacola que trazia pendurada a tiracolo.
- Mestre… que felicidade encontrá-lo por aqui… tenho andado precisamente à sua procura…
O Mestre sorriu-lhe, acenando com o braço.
- Estes fiéis amigos não me deixam partir, sabe? - e apontava para os pombos - … e ainda por cima, creio que alguns nem são daqui do jardim… vêm de mais longe…
- Oh, Mestre… só demonstra o quanto gostam de si… mas olhe, a propósito, será que me poderia ajudar?
- Ajudar? - espantou-se o Mestre - O senhor precisa da minha ajuda?
- É verdade, veja lá… é que sabe, aqui os meus assessores estão sempre a dizer.me que eu não sou suficientemente … popular… que as pessoas não acreditam totalmente em mim, enfim, disparates… e eu queria mudar isso… a sério que queria…
O Mestre envolveu-o num sorriso condescendente.
- Acreditar em si?... Hum… já experimentou … sorrir ?
- Sorrir ? Eu sou sorridente. Não me diga que ainda não viu os cartazes que estão aí espalhados por toda a cidade… os meus assessores garantiram-me que a fotografia até está muito boa…
- Ah, sim… os cartazes… claro… mas não, não me estava a referir aos cartazes… referia-me mesmo a si… já experimentou sorrir?
O politico ensaiou o seu melhor sorriso.
- Que tal? Não estou a sorrir?
O mestre olhou para ele, o seu próprio sorriso a desvanecer-se dos lábios.
- Não.. eu quero dizer, sorrir com alma, não simplesmente com a boca… repetir aquelas promessas todas que estão espalhadas por aí, nos cartazes da cidade… mas com um sorriso na alma… acha que consegue?