
- Mãe…
- Sim, Mariana… o que foi?
- Oh, mãe… hoje na escola… chamaram-me feia…
- Oh, minha querida… ficaste aborrecida…
- Fiquei… e sabes porquê?
- Não, Mariana… mas tu és bonita… muito bonita…
- Não, mãe… bonita é a Sofia, com aquele cabelo maravilhoso e os rapazes sempre atrás dela… eu sou só assim-assim… por isso é fiquei furiosa…
- E quem te chamou feia, meu amor? Alguém da tua sala? da tua turma?
- Não, não… foi o André, o crocodilo…
- O André? O crocodilo? Sinceramente… vocês arranjam com cada alcunha…
- Mas é mesmo, mãe… é mesmo parecido…
- Então não percebo, Mariana.
- Não percebes o quê, mãe? Já imaginaste, o rapaz mais feio da escola, a chamar-me feia?
- Ah, pois… na verdade, é estranho… e foi a primeira vez que ele se portou assim contigo?
- Foi… bem… ontem, ele também estava assim um bocadinho… esquisito, sabes?
- Esquisito? Como assim? tentou fazer-te alguma coisa, foi isso ?
- Foi… andou atrás de mim a manhã inteira… e eu não aceitei…
- Não aceitaste o quê, filha? O André queria que tu aceitasses alguma coisa?
- Queria, mãe… uma flor, imagina tu… uma flor…
- E tu, não aceitaste, Mariana?
- Não… tive vergonha…
( Silêncio )
- Mãe…
- Sim, Mariana?
- Sabes uma coisa?
- Não, minha querida… o que foi?
- É que… o André até nem é feio, sabes… os rapazes é que têm inveja dele, porque ele tira sempre as melhores notas… e eu até gosto daqueles óculos engraçados… fazem-no parecer mesmo um crocodilo pequenino…