
- Tenho a mão fria...
Ela levantou a blusa de lã e encostou-lhe a mão à barriga.
- Assim está melhor?
- Está... está bastante melhor, está quente...
Ela sorriu.
- Claro que está quente, meu tonto... e então... diz-me... já pensaste?
Ele permaneceu em silêncio, deixando a mão deslizar sobre a pele branca. Que sensação estranha aquela – estranha e suave, como feltro, como musgo verde de primavera.
- Já... já pensei – disse finalmente – mas não te parece que ainda é demasiado cedo para pensarmos nisso? Ainda nem tens...
- A certeza? – atalhou ela de imediato – claro que tenho a certeza.... uma mulher sabe, meu querido, uma mulher sabe sempre...
Ele emoldurou-lhe o rosto num olhar terno, dedicado. Sentiu por momentos que todas as palavras eram desnecessárias, superfluas.
- Gostava que se chamasse ... Artur, como o avô... se for rapaz.
- Artur?... É um nome bonito... e se for rapariga?
- Rapariga? Talvez Bianca... como a filha daquela tua amiga, sabes? Aquela que teve gémeas...
Ela procurou-lhe a mão, entrelaçando os dedos nos dele.
- Tens bom gosto para nomes...
Permaneceram mudos, perdidos num mar de sonhos, cada vez mais perto de se cumprir.
Finalmente, foi ela que rompeu o silêncio.
- Fazem um contraste bonito, não fazem?
Olhava para as mãos entrelaçadas, pousadas ainda sobre a barriga. A dela, de pele muito branca, a dele escura como ébano.
Ele beijou-lhe os olhos ao de leve.
- Fazem... fazem sim... e tenho a certeza que a Bianca ou o Artur, qualquer que seja a cor... será a criança mais linda do mundo.... tenho a certeza.