E agora?
O que fazer?
Olhou de novo o pequeno diploma, emoldurado e com os selo de lacre ainda húmido, o pergaminho imaculado e a letra cuidada, a fita azul pendente de uma das pontas.
“ Certifica-se por este diploma que Alberto João, após ter concluido com aproveitamento e distinção o curso de profeta, está habilitado para o exercício da profissão, podendo predizer o futuro e efectuar sermões. Está ainda habilitado para o ensino e divulgação dos conhecimentos adquiridos, desde que se sinta capacitado para tal.”
E agora?
O que fazer?
A multidão acotovelava-se, apertando o círculo em torno do novo profeta. Era sempre assim, aliás – sempre que um novo profeta transpunha as portas da escola, de volta ao mundo dos homens, logo uma multidão se formava de forma espontânea, cada qual a querer conhecer o seu próprio futuro, adivinhar as doenças, resolver os problemas de amor, as apostas do jogo ou muito simplesmente antecipar a data da própria morte.
Sempre fora assim... e naquele dia, todo o cenário habitual se repetia, uma vez mais.
O profeta Alberto João olhou para a multidão que o cercava, aterrorizado.
Logo na primeira linha, aquele homem impaciente, de casacão largo... como dizer-lhe do acidente que poderia sofrer na semana seguinte, quando voltasse a casa? Ou aquela mulher que segurava o filho doente nos braços... como dizer-lhe que não havia esperança, que o fim estava próximo? E ainda aquele outro, encostado aos cestos, para quê dizer-lhe que dali a poucos minutos iria encontrar a pessoa com que viveria até ao final dos seus dias?
E agora?
O que fazer?
- Meus amigos... – lá começou, as palavras tímidas a tentar vencer o clamor da multidão – obrigado por virem aqui... sei que vos move uma fé genuina, que querem saber coisas sobre o vosso futuro.... sei que querem que eu, mais que tudo... vos tranquilize...
A multidão foi silenciando, as filas da frente atentas à mensagem.
- Mas eu não conheço o vosso futuro... ninguém conhece o vosso futuro...
De imediato levantou-se um clamor por entre a multidão.
- Que profeta és tu, afinal? Porque nos trouxeste aqui? – gritava um.
- Aldrabão... Vigarista.. – apupavam outros.
Não tardou muito que voassem alguns objectos de encontro ao novo profeta, ao mesmo tempo que a multidão, num ápice, se dispersava, num coro de assobios.
O profeta Alberto João ficou de novo só, no cimo do monte.
De tudo o que aprendera, de todos os testes e exames que realizara , sempre com distinção... errara simplesmente uma unica questão... não porque não soubesse a resposta que se encontrava no manual dos profetas... mas sim por não concordar com ela.
“ Poderão os homens alterar alguma coisa do seu destino, desde que nascem? “
Alberto João... sempre acreditou que sim.
. Sinais
. O rei morreu... Viva o re...
. Fé