Terça-feira, 8 de Dezembro de 2009

 

Vagarosamente, pegou na caneta, à espera de um sinal.
A folha de papel, teimosamente em branco, insistia em não se revelar.
 
Certamente, algo deverá surgir – pensou, mordiscando sem pensar a ponta da haste dos óculos. Ajeitou-se sobre a cadeira, abriu um pouco mais os cortinados – talvez um pouco mais de luz...
 
Mas não, nada. Um rosto feminino, impossível de desenhar, fitava-o sorrindo, decalcado sobre a folha branca. Inexistente, uma miragem. Abriu e fechou os olhos vezes sem conta, esperando que a realidade se desenhasse de novo sobre o papel... mas tudo se revelou inútil, os contornos da face, a boca, as medeixas de cabelo, o olhar penetrante... tudo continuava ali, bem à sua frente, mesmo que só os seus olhos a pudessem vislumbrar.
 
Queria escrever as palavras “ ADEUS, DESISTO “.
 
Uma força insuspeita reteve-lhe o movimento da mão, quando a ponta da caneta tocou a superfície macia do papel. Lá fora, o céu que amanhecera cinzento desnudou-se por segundos de algumas nuvens e um raio tímido de luz invadiu a sala, aproveitou os cortinados abertos e foi banhar a folha de papel branco que ainda segurava na mão.
 
Por um segundo, um indefinível segundo, sentiu uma dor aguda trespassar-lhe o peito. Até quando... até quando conseguiria... arranjar forças? Para resistir? Para lutar?
 
Finalmente, pousou a mão e um fio de tinta molhou o papel sequisoso de palavras.
E escreveu.
 
“ Meu amor... “
 
 

 

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publicado por entremares às 12:59
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24 comentários:
De Maria a 8 de Dezembro de 2009 às 13:38
Bom dia Rolando

Sem palavras mesmo...AMEI




:)) DOCE ABRAÇO
De entremares a 8 de Dezembro de 2009 às 14:01
Maria amiga,

Fico feliz que a mensagem tenha passado...

Beijos.
Um óptimo dia para ti.
Rolando
De Sara a 8 de Dezembro de 2009 às 16:01
O raio de luz inundou-lhe a folha de papel em branco e alma que por segundos sentira vazia... como tu sabes eu acredito em "sinais" e esse foi sem dúvida um sinal que queria transmitir coragem e esperanca! A carta podia ter continuado assim: "Meu Amor... és o sol da minha vida, a razao do meu viver...".

O meu dia correu bem e apesar do frio sinto-me como esse raio de sol, cheia de esperanca :) E o teu feriado foi bom? (aqui trabalhou-se!). Beijinhos
De entremares a 8 de Dezembro de 2009 às 16:50
"Meu Amor... és o sol da minha vida, a razao do meu viver..."

Sara, tens razão.
É mesmo assim que a carta devia e deve continuar.

Tudo de bom para ti.
Rolando
De Wania a 8 de Dezembro de 2009 às 16:58
Querido Rolando...

Um tenho um fé muito grande. Acredito que existe um Ser Maior que nos rege e protege lá de cima e penso, também que não seria por sua vontade que o amor chegasse em nossos corações para nos fazer sofrer!

Não é possível e eu custo a me convecer disso...
Que coisa mais triste matar um amor que esta recém começando a nascer, como fazer isso? Como? Como matar um sonho que sempre sonhamos viver?

Não acredito que não exista um jeito de dois corações que se amam ficarem juntos...será que sou tão ingenua ainda nesta altura da minha vida que ainda não aprendi nada dela??? Será?

Não sei, só sei que a vida é mais que isso, vida é luz.... e onde há luz reina, o escuro nunca prevalece!



Que o sol brilhe muito dentro do teu coração te mostrando os caminhos e que estes caminhos te levem para onde tu sempre sonhou estar!


Bj grande pra ti!
De entremares a 8 de Dezembro de 2009 às 18:29
Wania...

Tu és sem dúvida, uma alma de paz e harmonia. É impossível não perceber que sentes bem fundo aquilo que escreves... e quando por vezes, te peço emprestadas as palavras e a tua poesia, sei que elas próprias já carregam em si muitos e bons sentimentos.

Portanto... percebo perfeitamente o que me estás a desejar... e dou-te um abraço enorme por isso.

Rolando
De Paula Raposo a 8 de Dezembro de 2009 às 17:41
A vontade e a esperança prevalecem. Gostei muito de te ler, nesse raio de luz que entrou na sala.
Beijos.
De entremares a 8 de Dezembro de 2009 às 18:30
Paula...

Sei ( todos sabemos ) que temos que abrir as janelas para deixar entrar a luz. E assim, iluminados ... conseguir descobrir a solução dos nossos anseios.

Beijos.
Rolando
De Rosinda a 8 de Dezembro de 2009 às 18:54
Rolando, desistir do amor? Nunca...
Há sempre uma luz no fundo do túnel...
Fique bem...
De entremares a 8 de Dezembro de 2009 às 19:40
Onix...

Sim... há sempre uma luz ao fundo do túnel. Mas sabes, creio que por vezes carregamos connosco tantas lanternas, queremos iluminar tudo tão bem... que nem sempre conseguimos vislumbrar essa tal luzinha pequenina...

Tudo de bom para ti.
Rolando
De mfc a 8 de Dezembro de 2009 às 19:26
O amor é apenas a inspiração necessária.
De entremares a 8 de Dezembro de 2009 às 19:39
Mfc...

NÃO, não é.
Aqui tenho que discordar de ti.
O amor não é a inspiração necessária, o amor é o ar que respiras. E se não respirares... não há inspiração que te valha e que salve...

Um abraço.
Rolando
De Jaqueline a 8 de Dezembro de 2009 às 20:22
Rolando,

"E como se esquece quem se ama?
E como é que sabemos que insistindo, o nosso amor irá ser correspondido?
É claro que o tempo leva a dar-nos uma certeza, mas quantos já não amaram durante anos? E nada nem ninguém conseguiu mudar isso.
Sei que o tempo ajuda a que se defina o futuro do nosso amor, morrer e esquecer ou conseguir mudar o outro lado.
Mas também compreendo quem está do outro lado, a nossa insistência pode ser encarada mal, a nossa desistência como um sinal que não amávamos verdadeiramente.
Não há certezas absolutas no amor, só a certeza de que na maior parte das vezes vale lutar por ele, mas também saber quando desistir ajuda noutras ocasiões.
Cada caso é um caso, somos diferentes sendo iguais."
Um beijo no teu coração.
De entremares a 8 de Dezembro de 2009 às 20:57
Olá Jaqueline.

Somos humanos... erramos, mesmo que nem sempre o reconheçamos. Amamos e desamamos.

E muitas vezes repetimos a eterna pergunta.
Onde está então o sentido de todas as coisas?

Beijos.
Rolando
De Marta M a 8 de Dezembro de 2009 às 20:29
Rolando:
Texto tocante e humano, vindo das profundezas do coração.
Foi escrito com amor, é evidente, porque o amor(nas sua diversas dimensões) provoca essa reviravolta na nossa alma.
E a memória, que tudo permite calibrar, porque preserva a visão do todo...Ajudando a pesar.
Entre diferentes inquietações que o dia de hoje trouxe, pelo menos para uma delas, hoje foste tu que escreveste para mim...
Obrigada.
De entremares a 8 de Dezembro de 2009 às 21:00
Marta...

Deixa-me contar-te um segredo, aqui que ninguém nos ouve.
Nem imaginas... nem imaginas como gostaria eu de estar sentado aqui à volta da fogueira, a receber o calor.
Mas não estou, está simplesmente metade de mim mesmo.

Beijos.
Rolando
De libel a 8 de Dezembro de 2009 às 23:31
Um pequenino grão de areia
Que era um eterno sonhador
Olhando o céu viu uma estrela
Imaginou coisas de amor
Passaram anos, muitos anos
Ela no céu, ele no mar
Dizem que nunca o pobrezinho
Pode com ela se encontrar

Se houve ou se não houve
Alguma coisa entre eles dois
Ninguém soube até hoje explicar
O que há de verdade
É que depois, muito depois
Apareceu a estrela do mar

E esta heim...Rolando??..Será que a Estrela resolveu descer, ou o grãozinho ganhou asas??...
Hum..acho que vou subornar a estrela do mar, talvez se lembre de alguma coisa...ahhaha...acho que não, ela também não viu nada, apenas comprova esse lindo amor.

Beijokas
De Maryama a 9 de Dezembro de 2009 às 01:29
Descreveu mágicamente o modo como me sinto as vezes.
Adorei!
De entremares a 9 de Dezembro de 2009 às 12:48
Libel...

Bonita poesia, bonita imagem, feliz ,mensagem.
Sim... o sol e a lua, o dia e a noite, uma estrela e um grão de areia...

Sinais.
Muitos sinais.

Beijos
Rolando
De julieta barbosa a 9 de Dezembro de 2009 às 02:10
Rolando,

Quando a caneta desliza suavemente sobre a folha de papel em branco e escreve “Meu Amor”, não há quem resista. São palavras-caramelo que se dissolvem na boca para que o beijo tenha o sabor do mel. Que as suas se transformem em doçura nos lábios da pessoa amada... Saudades da sua poesia e do encanto da sua alma.
De entremares a 9 de Dezembro de 2009 às 12:49
Julieta...

Tudo de bom para a sua alma, minha amiga.
E que muitas palavras doces a envolvam também a si, como caramelos.

Um grande abraço
Rolando

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