Sábado, 5 de Dezembro de 2009

E depois do adeus


 

Com as mãos trémulas, abriu o pequeno embrulho, já sabendo antecipadamente o que iria encontrar. Não era a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira… que lhe chegava às mãos um pacote como aquele, afunilado, envolto em papel acastanhado, pejado de selos de um país bem distante.

Sem querer, os olhos desviaram-se até ao fundo da sala onde, sobre uma velha mesa de tampo de madeira, um jarro avermelhado ostentava meia dúzia de tulipas amarelas, algumas delas já a murchar pelo efeito do tempo.

Quantas tulipas amarelas já recebera?

Quanto tempo já passara, desde a separação, a despedida, o choro e as lágrimas?

Como se houvera sido no dia anterior.

Ela terminara com tudo.

 

E no entanto, como evitar aquele sobressalto no coração, sempre que os dedos acariciavam as pétalas macias, como evitar aquele nó da garganta ao sentir o aroma da primavera exalado pelas flores? Como evitar tudo?

Como calar todos os pensamentos?

 

Naquele dia, o embrulho surpreendeu-a.

Vinha vazio, sem qualquer flor no seu interior.

Sem querer, franziu a testa de desapontamento. Um gesto ínfimo, involuntário, de desencanto, de incompreensão. O pacote vinha vazio - custava-lhe a aceitar o facto.

 

Não, não vinha completamente vazio. Um pequeno papel, cuidadosamente enrolado, espreitava sob o celofane que habitualmente embrulhava todas as  flores que recebera.

Pegou nele e levou-o para junto da janela. Nunca nenhuma das flores se fizera acompanhar por qualquer tipo de recado, de cartão. Nada.

 

Leu-o. Um, duas, três vezes. E novamente.

" Estou à tua porta, segurando na mão uma tulipa amarela. Queres vir recebê-la nas tuas mãos? "

 

Espreitou pela janela e viu-o, do outro lado da rua, segurando uma tulipa amarela, envolta por um plástico transparente.

 

Por um simples e infinito segundo, o tempo recuou e ela esqueceu-se de tudo, até de quem era. E muito simplesmente…. Chorou.

 

 

 

 

 

 

 

publicado por entremares às 16:34
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17 comentários:
De Sara a 5 de Dezembro de 2009 às 17:38
LINDO!!!
E quem chora agora ainda sou Eu... um texto emocionante, cheio de sentimento... tal e qual como tu nos tens habituado!

Beijinhos
De entremares a 5 de Dezembro de 2009 às 17:50
Sara...

O poeta é o tal que sabe fingir a dor que realmente sente...

Um beijo.
Rolando
De Paula Raposo a 5 de Dezembro de 2009 às 17:54
Um dilema!
Beijos.
De entremares a 5 de Dezembro de 2009 às 18:08
Paula...

Dilemas... a emoção de ser humano.
Como apetecia por vezes não o ser...

Beijos.
Rolando
De Rosinda a 5 de Dezembro de 2009 às 20:35
Rolando... senti emoção ao ler esta história, o sonho tornou-se realidade, estava á espera... com uma túlipa amarela na mão...
Podia ser eu... gosto muito de túlipas, mas prefiro as rosas...
Fique bem...


De entremares a 5 de Dezembro de 2009 às 21:47
Onix...

As histórias, as tulipas.... são retalhos da vida.
Aquele fim... desejo ardentemente que todas as histórias possam ter um fim feliz.

E esta também.

Um óptimo fim de semana para ti
Rolando
De Wania Victoria a 5 de Dezembro de 2009 às 21:06
Rolando, meu doce amigo!

Adoro quando o amor surpreende...

LIndo texto, como sempre transborda sentimento!
Se o poeta é um fingidor, como diz Frenando Pessoa eu não sei, só sei que eu não consigo fingir o que sinto quando leio o que o coração escreve!

Lindo demais!

Bjs

De entremares a 5 de Dezembro de 2009 às 21:48
Querida Wania

As histórias ( e esta também ) vão buscar só momentos reais da vida de cada um de nós, não é?

Só não está ainda escrito o fim... escrevi o que desejava que acontecesse...

Beijos.
Rolando
De Wania Victoria a 5 de Dezembro de 2009 às 21:07
Rolando, meu doce amigo!

Adoro quando o amor surpreende...

LIndo texto, como sempre transborda sentimento!
Se o poeta é um fingidor, como diz Fernando Pessoa eu não sei, só sei que eu não consigo fingir o que sinto quando leio o que o coração escreve!

Lindo demais!

Bjs

De MARIA JOSE a 5 de Dezembro de 2009 às 21:28
Linda história. Poucas pessoas têm um amor como este. Por um momento, gostaria de ser a personagem da história.
Vim retribuir sua visita ao meu blog e conhecer o seu, que aliás, muito me agradou.
Não consegui ver onde me tornar sua seguidora.
Beijos.
Maria José
De entremares a 5 de Dezembro de 2009 às 21:56
Maria José...

Fico feliz que tenha gostado, oxalá se sinta sempre bem por aqui.
O sapo não tem "seguidores", mas no outro blog ENTREARTES já tem... e oxalá goste de pinturas e ilustrações.

Um óptimo fim de semana para si.
Volte sempre.
Rolando
De Jaqueline a 5 de Dezembro de 2009 às 22:53
Rolando...

"O amor pode nos levar ao inferno ou ao paraíso, mas sempre nos leva a algum lugar. " Paulo Coelho

Esperamos um final feliz para esta linda história de amor!

Beijinhos no teu coração.

Jaqueline
De entremares a 5 de Dezembro de 2009 às 22:57
Olá Jaqueline,

O Paulo Coelho tem razão, fica impossível de conceber uma vida sem essa "coisa" que nos deixa o coração em sobressalto. Por vezes desanimamos, queremos desistir de tudo, vencidos pelo cansaço.

Quando acordamos, com novas energias, lançamos de novo mãos à obra. E tentamos de novo, sem ensaiar, trampolim sem rede.

Desejo imenso que esta história tenha um final feliz.

Beijos.
Rolando
De Deusa a 5 de Dezembro de 2009 às 23:07
Ola meu querido amigo
Quero um final feliz.
ainda mais pra esse , não pode terminar assim
por favor refaça o final , pode ser ?
Um abraço muito carinhoso , sabe que fico aqui torcendo sempre , mesmo aqui quietinha fico torcendo.
Está escrito nas estrelas , não pode se apagar !



De Jaqueline a 5 de Dezembro de 2009 às 23:13
Rolando

Acho que nunca devemos desistir, como disse o poeta Mário Quintana:
"O segredo é não correr atrás das borboletas...é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar, não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você..!"
Beijinhos.
De libel a 6 de Dezembro de 2009 às 00:13
Ela chorou quando fitou o meu rosto espelhado de alegria. Pela primeira vez, não chorou pelo sofrimento que a sufoca, mas sim pela sua felicidade face à minha felicidade. Aquele momento foi perfeito, era o momento ideal para o tempo parar. E ele parou quando os nossos olhos se encontraram. Um momento que eu vou guardar para sempre. Apertei a sua mão com força e suavemente a pousei no meu coração, pulsava agitado e ansioso, ..ela sentiu.
Nunca esperou chegar tão longe, ver-me dar um passo tão importante. Confesso que as pernas me tremiam, a alegria era imensa, e só esperava que o corpo me desse forças para tanta emoção . Uma lágrima caiu pelo meu rosto, fui incapaz de a conter. Apertei a sua mão ainda com mais força. A união do seu olhar com o meu despoletou em mim uma avalanche de emoções, e apenas consegui dizer:
Não me abandones nunca.
E o tempo parou, ali naquele momento perfeito..com as certezas de muitos outros.

Rolando desculpa o atrevimento, mas não resisti, tu sabes que adoro finais felizes....Beijokas

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