Que cor usar?
Laranja ? Talvez... o laranja transmitia alegria, amizade, sensações quentes...
Ou amarelo? Amarelo... amarelo era luz, amanhecer.... uma vida nova.... sim, também seria apropriado, sem dúvida.
Teria que ser uma cor clara, uma cor alegre.
Sentia-se alegre, transbordava de alegria. As cores escuras, apesar das magníficas tonalidades... não encaixariam nela... pelo menos naquele dia, naquele dia especial.
E o violeta?
Ai, como era delicado aquele tom de violeta... mas assim, como escolher, como resistir à tentação de utilizar todas as cores e principalmente... como adivinhar a cor que ele iria utilizar?
Sentou-se de novo, a palete de pequenos frascos de vidros transbordando cor, bem à sua frente, seduzindo-lhe o olhar.
Ai, ai, ai... como escolher, como escolher?
Ele dissera-lhe: - Sabes que não posso levar comigo plantas no avião, não sabes? Por isso, far-te-ei uma surpresa.... levarei uma flor de papel, que eu mesmo pintarei.... e nem te direi a cor, terás que a tentar adivinhar...
Finalmente.... decidiu-se. Atacou na folha de papel que escolhera e no pequeno pincel e, com extremo cuidado, meteu mãos à obra.
Pouco depois, na sala de desembarque do aeroporto, ali estava ela, nervosa, segurando com as duas mãos a sua pequena surpresa.
Ele, o seu “ele”... voltara.... e voltara de vez, voltara para não mais partir. Iriam terminar os infinitos tempos de espera, as cartas solitárias de amor e saudade, os telefonemas ansiosos, as mensagens minúsculas, o contar dos segundos, dos minutos, dos dias em falta. Tudo isso iria terminar.
Só precisava de conseguir conter a ansiedade.... uns minutos mais.
Viu-o.
Lá ao longe, furando por entre a multidão, arrastando a pequena mala laranja, rodopiando por entre os outros passageiros, à procura da saída. Trazia algo na mão, dificil de perceber aquela distância. Mas... ela sabia o que era, sembre soubera.
Transpôs a porta envidraçada, os olhos à procura dela.
Ela permaneceu imóvel, ao fundo da passagem, segurando bem junto ao peito a sua pequena pintura. Já percebera a surpresa dele... uma tulipa amarela, de um amarelo garrido que arrancava sorrisos complacentes com quem se cruzava.
O amor é ridiculo, diriam os mais circunspectos.
Ele dirigiu-se a ela, sorrindo com o prazer inigualável do reencontro, o reencontro tão aguardado.
- Sempre escolheste... o amarelo – murmurou ele.
Ele ergueu um pouco mais o desenho, uma folha branca com um sol risonho colorido de amarelo e laranja, envolto de raios alegres.
Por baixo, escrevera simplesmente: “ És o meu Sol”
Ficaram a a olhar um para o outro, antes do abraço, antes do beijo, antes de tudo. A olhar simplesmente... cada um pensando para si mesmo como a vida era estranha, como o futuro era imprevisivel, como as coisas por vezes acontecem, sem aviso prévio, sem hora marcada, sem receita.
Acontecendo, simplesmente.
- Cheguei.... – disse ele, num fio de voz.
Ela pestanejou ao de leve, numa concordância sem palavras.
- Eu sei, amor... vamos para casa?