Segunda-feira, 26 de Outubro de 2009

A esplanada de Copacabana

 

 

Praia de Copacabana, uma tarde morna de primavera.
 
- Uma coca-cola light... e um café expresso, por favor.
O empregado atencioso desapareceu, gincando por entre as mesas cheias, em plena tarde. Corria aquela aragem fresca do mar, as esplanadas estavam cheias de gente de fim de tarde, bebericando refrescos, lendo jornais, descansando a vista no areal da praia. Uma tarde normal, pejada dos ruídos do trânsito, dos gritos dos vendedores de bugigangas, aqui e ali salpicada por casais de namorados enrolados na areia.
- Pode ser uma cola zero, dona? E senhor... não temos café...
 
Como assim, não têm café? Mas estamos no Brasil, como é possível não ter café? Em Roma é obrigatório ter pasta, vocês têm que ter café... como é possível?
- Anh... pode ser então uma água... sem gás.
O empregado desapareceu novamente, insensível aquele desabafo mental.
Sinceramente... onde já se viu... uma esplanada sem café?
Ela sorriu-lhe.
- Amor... queres ir procurar outro lugar? Pode ser que tenham café...
 
As madeixas louras caiam-lhe pelos ombros, naquele jeito tão especial de lhe emoldurar o rosto. Não se cansava de a admirar.
- Não... sério, está tudo bem... tomo uma água... estamos bem aqui...
Olhavam para o mar, para a areia branca onde se haviam sentado, pouco antes, entrelaçados num daqueles abraços apaixonados. Na mesa do lado, outro casal tentava explicar a um dos funcionários da esplanada qual o botão a carregar, na máquina fotográfica digital. O pobre moço insistia em pressionar o botão errado e finalmente, depois de várias poses e sorrisos para o flash, o casalinho lá se deu por satisfeito e libertou o pobre fotógrafo desajeitado.
E eis que nesse momento lá vem ela... uma bola azul, disparada de longe, do campo de jogos improvisado bem defronte da esplanada.
Embate na mesa da frente, fica ali a dançar junto das pernas da moça, o possível namorado a franzir a testa de desagrado.
Um dos jogadores corre, vem buscar a bola, o corpo reluzente de suor. Desfaz-se em desculpas, lança à rapariga um sorriso desafiador e volta de novo ao jogo, bola debaixo do braço.
 
- A sua água, senhor...
Ah, sim, a água, já se esquecera dela. Que vicio aquele, de observar as pessoas. Mas não se cansava, o mundo sempre seria um imenso palco de histórias simultâneas, histórias cruzadas, histórias paralelas, personagens surreais, realidades que por vezes superavam – e muito – a própria ficção que ele adorava escrever.
 
Mas... outra vez?
Era. Outra vez.
A mesma bola azul, volteando pelos ares... em direcção à mesma mesa, talvez mesmo mais certeira, alojando-se mesmo aos pés dela. Ela segurou-a entre os pés, divertida. O seu acompanhante alternava entre o divertido e o desagradado, sem se decidir ao certo.
E lá vem de novo o espadaudo bronzeado buscar a bola, o mesmo sorriso, a mesma desculpa esfarrapada.
Ela finge reter a bola entre os pés, oferece resistência... ele lança-lhe um sorriso de malicia, pisca-lhe o olho.
Finalmente pega na bola, lança-lhe um sorriso quase beijo e volta de novo ao areal.
 
Por baixo da mesa, sentiu o toque bem familiar da perna dela, a roçar na sua.
- Estavas a observar.... não estavas?
Segurou-lhe a mão, entrelaçando os dedos nos dela.
- Estava... a divagar, é só – respondeu ele.
- A divagar, pois... vai sair daqui uma história, não vai? Mais uma das tuas histórias...
Foi a vez dele sorrir.
- Essa agora... porque dizes isso? Eu só estava aqui a descansar, mais nada... e depois veio aquela bola azul e...
 
- Eu sei... estás outra vez com aquele brilhozinho...
- Brilhozinho? Como assim?
- Brilhozinho, sim... aquele olhar brilhante com que ficas ... quando te surgem essas ideias...
 
Beijou-a.
- Hum.... – lá disse, finalmente – és deliciosamente perspicaz, sabias?
Ela concordou.
- Estou só... a ler-te o olhar... só isso...

 

publicado por entremares às 07:30
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21 comentários:
De Rosinda a 27 de Outubro de 2009 às 00:08
COPACABANA, PRINCESINHA DO MAR...
AQUI A PRINCESINHA ERA LOURA E MUITO PERSPICAZ?! OU MUITO ENAMORADA?
QUANDO SE AMA DOIS SÃO UM...
TUDO DE BOM...
De entremares a 27 de Outubro de 2009 às 11:56
Oi, Onix

Aqui a princesinha era loira...
E perspicaz.
E enamorada.

Beijos.
Rolando

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