
Praia de Copacabana, uma tarde morna de primavera.
- Uma coca-cola light... e um café expresso, por favor.
O empregado atencioso desapareceu, gincando por entre as mesas cheias, em plena tarde. Corria aquela aragem fresca do mar, as esplanadas estavam cheias de gente de fim de tarde, bebericando refrescos, lendo jornais, descansando a vista no areal da praia. Uma tarde normal, pejada dos ruídos do trânsito, dos gritos dos vendedores de bugigangas, aqui e ali salpicada por casais de namorados enrolados na areia.
- Pode ser uma cola zero, dona? E senhor... não temos café...
Como assim, não têm café? Mas estamos no Brasil, como é possível não ter café? Em Roma é obrigatório ter pasta, vocês têm que ter café... como é possível?
- Anh... pode ser então uma água... sem gás.
O empregado desapareceu novamente, insensível aquele desabafo mental.
Sinceramente... onde já se viu... uma esplanada sem café?
Ela sorriu-lhe.
- Amor... queres ir procurar outro lugar? Pode ser que tenham café...
As madeixas louras caiam-lhe pelos ombros, naquele jeito tão especial de lhe emoldurar o rosto. Não se cansava de a admirar.
- Não... sério, está tudo bem... tomo uma água... estamos bem aqui...
Olhavam para o mar, para a areia branca onde se haviam sentado, pouco antes, entrelaçados num daqueles abraços apaixonados. Na mesa do lado, outro casal tentava explicar a um dos funcionários da esplanada qual o botão a carregar, na máquina fotográfica digital. O pobre moço insistia em pressionar o botão errado e finalmente, depois de várias poses e sorrisos para o flash, o casalinho lá se deu por satisfeito e libertou o pobre fotógrafo desajeitado.
E eis que nesse momento lá vem ela... uma bola azul, disparada de longe, do campo de jogos improvisado bem defronte da esplanada.
Embate na mesa da frente, fica ali a dançar junto das pernas da moça, o possível namorado a franzir a testa de desagrado.
Um dos jogadores corre, vem buscar a bola, o corpo reluzente de suor. Desfaz-se em desculpas, lança à rapariga um sorriso desafiador e volta de novo ao jogo, bola debaixo do braço.
- A sua água, senhor...
Ah, sim, a água, já se esquecera dela. Que vicio aquele, de observar as pessoas. Mas não se cansava, o mundo sempre seria um imenso palco de histórias simultâneas, histórias cruzadas, histórias paralelas, personagens surreais, realidades que por vezes superavam – e muito – a própria ficção que ele adorava escrever.
Mas... outra vez?
Era. Outra vez.
A mesma bola azul, volteando pelos ares... em direcção à mesma mesa, talvez mesmo mais certeira, alojando-se mesmo aos pés dela. Ela segurou-a entre os pés, divertida. O seu acompanhante alternava entre o divertido e o desagradado, sem se decidir ao certo.
E lá vem de novo o espadaudo bronzeado buscar a bola, o mesmo sorriso, a mesma desculpa esfarrapada.
Ela finge reter a bola entre os pés, oferece resistência... ele lança-lhe um sorriso de malicia, pisca-lhe o olho.
Finalmente pega na bola, lança-lhe um sorriso quase beijo e volta de novo ao areal.
Por baixo da mesa, sentiu o toque bem familiar da perna dela, a roçar na sua.
- Estavas a observar.... não estavas?
Segurou-lhe a mão, entrelaçando os dedos nos dela.
- Estava... a divagar, é só – respondeu ele.
- A divagar, pois... vai sair daqui uma história, não vai? Mais uma das tuas histórias...
Foi a vez dele sorrir.
- Essa agora... porque dizes isso? Eu só estava aqui a descansar, mais nada... e depois veio aquela bola azul e...
- Eu sei... estás outra vez com aquele brilhozinho...
- Brilhozinho? Como assim?
- Brilhozinho, sim... aquele olhar brilhante com que ficas ... quando te surgem essas ideias...
Beijou-a.
- Hum.... – lá disse, finalmente – és deliciosamente perspicaz, sabias?
Ela concordou.
- Estou só... a ler-te o olhar... só isso...
Olá Rolando
Ler a tua história foi a melhor maneira de começar o meu dia...também eu fiquei com um brilhozinho nos olhos, porque consegui rever-me em outros lugares... algures por aí, cruzando caminhos com outras gentes, partilhando emoções...enfim...vivendo, porque a vida é feita de momentos.
Aqui a vida acontece.
Beijos Manu
Olá, Manu...
A vida é feita de momentos, sim... de pequenos momentos que a gente congela na memória, de sons, de imagens, de aromas até. As pessoas rodeiam-nos, as situações acontecem... e o mundo continua a ser o tal palco imenso onde se cruzam todas as personagens...
Beijos
Uma óptima semana para ti
Rolando
De
Deusa a 26 de Outubro de 2009 às 11:00
olaaaaaaa meu querido amigo
Que lindooooooooo!
Serei sempre feliz se puder contribuir com o sonhos dos meus amigos e mais Feliz ainda se puder ver os sonhos deles se tornarem reais .
Abraço Apertado
Deusa....
Que saudades de te ver...
Estás de volta, ou ainda distante, lá por São Paulo?
Sei que ficas feliz, a sério...
Aceitas um chopinho?
Pode ser naquela esplanada...
Beijos
Rolando
De
Ana Lucia a 26 de Outubro de 2009 às 14:01
Boa tarde Rolando!
Fico imaginando se não é assim que te surgem as idéias de texto! Quem sabe você não esteve aqui no Brasil, em Copacabana e essa é exatamente uma história verídica?
Um abraço!
Oi, Ana Lucia...
Pois... nada como presenciar as histórias para depois as poder contar, não é?
E aquela bola azul... como saltitava...
Beijos.
Rolando
De
lis a 26 de Outubro de 2009 às 15:17
Gostei muito dessa historinha , só lamento ,em plena praia de Copacabana ,no Brasil , nao ter aquele cafezinho especial pro visitante ilustre. Ficamos devendo .
Naquela tarde morna de primavera, acredito nao ter lhe faltado mais nada , só divagações e muto brilho no olhar.
A felicidade existe e pode estar aqui, na praia de Copacabana, ou em qualquer outro lugar ,onde dois amantes sentam-se placidamente a observar bolas azuis .
Grande abraço
Olá, Lis...
Tens razão, a felicidade pode estar em qualquer lado...
As bolas azuis são um pretexto, nesta Copacabana... ou em qualquer outra praia, em qualquer outra esplanada deste mundo...
Beijos.
Rolando
De
Sara a 26 de Outubro de 2009 às 17:18
Olá Rolando,
que delicia de história ;) A serio acabei de a ler e senti-me com uma expressao e um sorriso maroto... hmmm, soube bem! Principalmente esse calorzinho de Copacabana e estar sentada numa esplanada a observar morenos "reluzentes" :P Era bom era :D
Beijinhos,Sara
Oi, Sara...
Já viste? Sempre que eu falo no calor, ficas logo com as orelhas arrebitadas... ( pudera, aí deve estar um friiiiiiooo).
Mas vou ver se arranjo assim uma foto bonita do areal, dos "bronzeados" e da água quentinha...
Para ao menos te aquecer o inverno...
Está tudo bem contigo?
Beijos.
Rolando
E como é lindo o amor!!
Beijos.
Oi, Paula...
Palavras para quê?
É isso mesmo, como é lindo o amor...
Beijos
Rolando
Rolando,
Deixo-te aqui com uma linda música de Dorival Caymmi:
Copacabana...
Depois de trabalhar toda a semana
Meu sábado não vou desperdiçar
Já fiz o meu programa pra esta noite
E já sei por onde começar
Um bom lugar para encontrar: Copacabana
Pra passear à beira-mar: Copacabana
Depois um bar à meia-luz: Copacabana
Eu esperei por essa noite uma semana
Um bom jantar depois dançar : Copacabana
Pra se amar um só lugar : Copacabana
A noite passa tão depressa,
Mas vou voltar se pra semana
Eu encontrar
o meu amor
Copacabana
Muitos beijos,
Regina d'Ávila.
Ai, Regina...
Copacabana consegue ser isso tudo?
"Um bom jantar depois dançar
Pra se amar um só lugar
A noite passa tão depressa,
Mas vou voltar se pra semana
Eu encontrar
o meu amor"
Linda letra... e a propósito, conheces a Barra da Tijuca? A praia também é .... convidativa?
Muitos beijos
Rolando
Fiquei-me a imagina r a olhar para a praia.... gosto da forma como mostras a vida...e como nos deixas com vontade de viver.
Jorge
Meu caro Jorge
Creio que estou gostando cada vez mais da vida, sabes?
Talvez seja do olhar, simplesmente.
Mas que vale a pena.... lá isso vale.
Um grande abraço.
Rolando
De
Rosinda a 27 de Outubro de 2009 às 00:08
COPACABANA, PRINCESINHA DO MAR...
AQUI A PRINCESINHA ERA LOURA E MUITO PERSPICAZ?! OU MUITO ENAMORADA?
QUANDO SE AMA DOIS SÃO UM...
TUDO DE BOM...
Oi, Onix
Aqui a princesinha era loira...
E perspicaz.
E enamorada.
Beijos.
Rolando
Esta história ...
Me fez lembrar uma música que amo demais:
Garota de Ipanema
Composição: Tom Jobim e Vinícius de Morais
Olha
Que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado
É mais que um poema
É a coisa mais linda
Que eu já vi passar
Ah
Porque tudo é tão triste
Ah
Porque estou tão sozinho
Ah
A beleza que existe
A beleza
Que não é só minha
E também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho
Se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor
E assim, essa história de amor, se completa com esta musica de fundo, que dizes Rolando?
Um beijo
Caramba... Beija-flor.
Nem podia ser melhor, acredita, nem podia ser melhor...
Tem tudo a ver, decididamente.
Tudo de bom para ti...
Rolando
Adoro essa Música, essa letra e o Maestro.
E sim, ando nas nuvens, vivendo o Amor!
E espero que Tu também!
Bijim
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