
O entardecer da praia – talvez de qualquer praia – era sempre algo de mágico, único.
Da varanda do quarto de hotel, deixou que o olhar se perdesse na areia, no rebentar das ondas, no vaivém da espuma molhada. Alguns atletas de domingo aproveitavam os últimos raios de sol para uma corrida no areal, contornado os improvisados campos de futebol, saltando sobre os castelos de areia.
As gaivotas, habitualmente tão pontuais, ainda não haviam anunciado a sua presença.
Ela esticou os braços, libertando a preguiça acumulada
- Um café ... como saberia bem agora um café...
Foi então que reparou neles. Ali bem na sua frente, no meio do areal.
Qualquer deles certamente já com idade suficiente para ser seu pai ou mãe, talvez mesmo ate avós. Ambos sentados na areia, ela colada a um vestido arroxeado, longas madeixas brancas caídas sobre os ombros, ele dedilhando um violão, um chapéu de palha a proteger-lhe os olhos do sol poente.
Aquela distância, nunca conseguiria ouvir os acordes da musica, abafados pelo rebentar das ondas. Mas conseguia perceber a suavidade do toque, a dedicação da presença, inclinado para ela.
Subitamente, sentiu inveja deles, ou daquilo que representavam . Desejou sem querer que quando chegasse o seu tempo - o tempo dos cabelos brancos e das longas tardes de outono – existisse também para ela uma praia e a atenção de um violão, dedilhado com ternura e sentimento, com paixão ate.
- Vem para dentro... esta a entrar muito frio aqui para dentro...
Ela voltou à realidade.
Sobre os lençóis revolvidos, ele lançava-lhe um olhar… aquele olhar de desejo que ela tão bem conhecia.
- Apetecia-me ir caminhar na praia… - disse finalmente - tenho saudades dos nossos passeios de mãos dadas, ao longo do areal…
Ele abriu muito os olhos.
- Os nossos passeios na praia? Mas nós nunca passeámos na praia… sempre te fez impressão caminhar descalça sobre a areia…
- Eu sei… mas isso é o passado…. Agora eu quero ter saudades desses nossos passeios na praia…. Levas-me? Vens comigo?
Ele soltou os lençóis e caminhou para ela, encostando-se os dois às vidraças da varanda. Lá fora, os últimos raios de sol anunciavam o crepúsculo, tingindo de carmim as nuvens mais longinquas.
- Posso fazer-te uma pergunta ? - lançou ele finalmente, o queixo apoiado sobre o ombro dela.
Ela concordou em silêncio.
- Queres … envelhecer comigo?
De repente… sentiu qualquer coisa a irromper-lhe dos olhos. Não fosse a imensa felicidade, poderia até ser simplesmente uma lágrima de sal. Não lhe respondeu.
Ao invés disso, apertou-lhe simplesmente a mão com força, com muita força.
De
marta a 23 de Outubro de 2009 às 13:47
mais um mar de palavras serenas onde se descansa o olhar.
um beijo
e bom-fim-de-semana
Olá, Marta...
Que as palavras nos descansem o olhar e alegrem a tarde. E, se possível, que o vento traga brisas suaves...
Bom fim de semana para ti.
Rolando
De
GISLENE a 23 de Outubro de 2009 às 14:20
QUE LINDO...
PODER ENVELHECER AO LADO DE QUEM SE AMA E QUER BEM...
FUTURO QUE SE CONSTRÓI NO DIA A DIA, COM DIFICULDADES, APRENDENDO A LIDAR COM AS DIFERENÇAS, NÃO É FÁCIL, MÁS, VALE A PENA... PENSO EU QUE VALE A PENA... SUA PERSONAGEM TAMBÉM...
RESPEITO, CUMPLICIDADE, AMOR...
É BONITO ISTO...
UM ABRAÇO, ROLANDO
GISLENE.
Oi, Gislene...
Haverá algo melhor que a cumplicidade de olhares, de entendimentos, de silêncios onde as palavras nem sempre fazem falta?
O tempo, quando passar... que nos seja suave para todos... é o que desejo.
Beijos.
Rolando
De Sindarin a 23 de Outubro de 2009 às 15:40
Olá Rolando! Fico sempre muito feliz por receber novos amigos nos meus sítios e quero agradecer o teu comentário. Só que acabo de fazer um post que se calhar te levaria a mudar de opinião sobre mim. Eu sei e quero acreditar que Ele está lá, embora tanto me aponte para o contrário, mas é isso que me ajuda a viver e nada me fará mudar acho eu. Adorei este teu post. "Queres envelhecer comigo? O que poderá haver de mais belo na vida? Um grande beijinho obrigada pela visita.Gostava de não me perder de ti. Tudo de bom
Olá, Sindarin...
Deixa-me em primeiro lugar oferecer-te o café. O primeiro a chegar traz sempre o café fresquinho, eu só trouxe os bolinhos para acompanhar...
Senta-te. vais gostar de conhecer todos os que aqui pernoitam, à volta da fogueira.
Beijos.
Rolando
De Sindarin a 23 de Outubro de 2009 às 18:05
Oh! adoro café mas hoje pode ser um chocolate quentinho? Doce e reconfortante para todos? Obrigada. Vou sentar-me com gosto e ficar quietinha a ouvir as tuas histórias.
Correr pelos sonhos e senti-los reais, isso é a suprema felicidade! Muitos beijos.
Oi, Paula
Correr pelos sonhos?
Parece deliciosa a imagem. Talvez seja assim que se consegue alcançar o final do arco-iris. Será verdade que ainda lá está o pote de ouro? Ou alguém já o apanhou?
Um bom fim de semana para ti...
Rolando
De chica a 23 de Outubro de 2009 às 22:21
Que coisa mais linda isso. Sabes, eu estou há anos, envelhecendo com meu marido.Juntos passamos por tudpo e faremos em janeiro, 41 anos de casados.É muito legal!Espero ficar junto muito mais.Eu sempre sonhei e,m envelhecer no mar.Isso não consegiuimos ainda...abração,chica
De
Rosinda a 23 de Outubro de 2009 às 23:10
Sonhos lindos, que a vida se encarrega de desvanecer, mas quem não gostaria...
Está lindo , mas não só esse post, tenho lido alguns e são todos portadores de grande sencibilidade.
Quero também repetir que me sinto feliz por me ter aberto um pouco a sua porta...
Saudações
De
GISLENE a 23 de Outubro de 2009 às 23:20
ROLANDO,
TEM SURPRESA PRA VOCÊ NO MEU BLOG!
MESMO SABENDO QUE NÃO GOSTAS DE PASSAR POR LÁ... FAÇA UMA VISITINHA... ESTARÁ POSTADO NO SÁBADO.
BEIJOS,
GISLENE.
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