Barbarella.
Estado civil: divorciada
Dados pessoais: 1,78m, 32 anos, morena, cabelos escuros, esguia.
Dados do perfil: Sonhadora, caprichosa, romântica, sedutora, boa cultura geral. Ocupação: Relações públicas
Hobbies: Ler e Viajar.
Estado: Descomprometida
Situação: à procura
Olhou novamente para a meia dúzia de linhas, ainda a piscar no écran. Sempre gostara daquele pseudónimo, fazia-a sentir-se como a heroína dos filmes, sensual, provocadora, com a agilidade de uma gata e o mundo a seus pés. A noite era o seu mundo, os telhados vazios e os becos escuros o seu jardim, os homens – todos os homens – as suas flores.
Barbarella.
Só o som da palavra a fazia estremecer de prazer. Tinha aquele toque quente, principalmente quando soletrado por um amante, no calor da noite. Um nome que evocava mil imagens de prazer, de tentação, de fruto proibido.
Claro que não era o seu verdadeiro nome. Maria da Purificação Vaz Almeida, esse sim...
Ora bem... quem é que iria, no seu perfeito juizo, marcar um encontro com ela, através daquele “site” tão popular... com um nome daqueles? Pois... não, não mesmo. Sempre sentiu que nomes daqueles só deveriam ser autorizados a freiras, noviças... enfim... essas pessoas.
Portanto... Barbarella, claro. Sentia-se melhor nessa pele.
O problema... o problema, bem vistas as coisas... até não era bem o nome... mas o resto. A idade... ao menos essa era verdadeira, tinha 32 anitos, bem feitos no dia de São Crisóstomo, que talvez tivesse até inspirado o seu nome tão angélico. Agora o resto...
Com saltos altos... sim, talvez com sorte chegasse ao metro e sessenta e qualquer coisa, e também era verdade ser morena, cabelos escuros, sonhadora e todas as outras coisas... excepto talvez... o esguia.
Mas já lá vamos.
A profissão era aparentada com relações públicas, afinal de contas passava o dia inteiro a falar com pessoas, essa é a verdadeira função de uma telefonista, não é? Conhecer pessoas pela entoação da voz, decorar-lhes os números de telefone, das extensões para onde ligam, as horas a que ligam... portanto, claro que era uma relações públicas, sempre soa melhor que telefonista. E também era verdade que adorava ler e viajar. Ou ler, pelo menos. Ainda não viajara para fora do país, mas – sinceramente – claro que iria gostar, quem é que não gosta de viajar?
E finalmente... pois... descomprometida, a procurar... sim, aqui fora o mais possível honesta... infelizmente.
Voltou a pousar os olhos sobre a tal linha complicada. O cursor continuava a piscar sobre a palavrinha... esguia. E aí... seria complicado, porque Maria da Purificação, de esguia... talvez nos pulsos, e não mais que isso. Redondinha, anafada, simpática. Era assim que todos a descreveriam, se alguém os questionasse sobre o seu perfil. Talvez até sublinhassem o redondinha...
Suspirou.
O que fazer?
Anular o encontro? Contar a verdade?
A colega observou-a no seu dilema. Pousou os auscultadores e lançou-lhe um sorriso cúmplice.
- Então, Maria... que é isso? Estás com cara de caso...
Maria da Purificação devolveu-lhe o sorriso, embrulhado com um laçarote.
- Pois... é um caso... lá nisso tens toda a razão...
E após uma pequena pausa...
- Olhá lá... por acaso não estás assim a ver nenhuma maneira rápida de eu perder aí uns.... vinte quilitos, talvez?