
A escuridão era imensa...e as mãos tremiam-lhe, como nunca.
Um fósforo. Um simples fósforo.
A escuridão, para quem nunca vira a luz... não era escuridão – era simplesmente o mundo, tão real e palpável como outra coisa qualquer. Quem já experimentara a luz... dizia que não havia palavras para explicar essa sensação; as cores, as formas, as tonalidades.
Mas ele, desde sempre convivendo com a noite negra, não sabia isso. Nem conseguia imaginar ao menos esse êxtase dos sentidos... quando riscasse aquele fósforo e dali brotasse a luz.
Teve medo. Um pânico de morte, de não saber o que iria sentir a seguir. Como seria... a luz? Como seria... o seu calor, a sua claridade? Que sensações de prazer lhe assaltariam a pele?
E, pior ainda... e se ele se viciasse nessa sensação?
E se ele se tornasse um dependente da luz? O que fazer?
O que fazer depois, quando o único fósforo de que dispunha... se esgotasse em cinzas e ele retornasse à eterna escuridão?
O que fazer?
Valeria a pena?
Compensaria um breve momento de prazer absoluto... uma possível vida inteira de torpôr, de adormecimento?
As mãos tremiam-lhe.
E então... lembrou-se.
Alguém que lhe dissera, depois de experimentar a luz, que “ mais valia arrepender-se depois de experimentar, do que lamentar-se de nunca o ter tentado”.
Vagarosamente, pegou no seu precioso tesouro.
Morreria se não o tentasse.
Morreria de desejo, de ansiedade, de uma vida por cumprir.
Respirou fundo.
E como quem se lança do alto do abismo... acendeu o seu fósforo.
E então......
Gostou de tudo que viu, sentiu o aconchego do calor ...se deliciou com as cores...viveu aqueles instantes intensamente... completamente...
Conheceu uma vida repleta de emoções... e não podia mais voltar para a escuridão..
Queria tudo..novamente..queria mais..e mais...
Se apaixonou pela luz...não podia mais viver sem ela...
Sabia agora o que queria...
Lindo conto Rolando...mas...e se ele não conseguir outro fósforo ( e outro..e outro) para iluminar sua vida?
Olha..a Lis disse uma coisa muito interessante no blog dela sobre o seu ...”existe uma química entre você e seus leitores”...é realmente uma grande verdade...
Parabéns!!
Beijos,
Regina.
Ai, ai, ai... Regina...
Pois aí está aquilo que mais me agrada na história... e na vida real. Só cada um saberá o que acontecerá... mas para poder saber... precisa de arriscar... e precisa de acender o fósforo, não é?
E a quimica...já tinha pensado que a gente vai tendo lugar marcado nas casas uns dos outros... até porque já intuimos que tipo de sensação vamos ter, quando visitamos um blog amigo... começamos a sentir-nos parte da mobilia... eu sinto isso...
Muitos beijos
Rolando
De
Sara a 16 de Setembro de 2009 às 16:03
Bem... este conto está ou é simplesmente fantástico! No meu entender uma Metáfora fantástica... pelo menos e de acordo com a minha "vida actual" li o teu conto e um segundo simultaneamente nas entrelinhas!
Sim sem dúvida Rolando tu consegues estabelecer uma "química" entre ti e os teus leitores... por mim falo, mas a reacção química a mim sabe bem ;) caso contrário nao te lia assiduamente.
Beijinhos
Oi, Sara...
É muito saboroso, poder identificar-nos com as histórinhas... e olha que eu estou ( na vida real ) numa história mesmo, mesmo... igual a esta.
E se procurarmos bem... quantos ´fósforos não tivemos todos nós de acender, tentando sempre... não ser o ultimo?
Beijos
Rolando
Devemos sempre conhecer a felicidade e a luz quando temos oportunidade para isso. Mesmo com a certeza de que depois vamos voltar à escuridão de sempre. Talvez o negro que nos envolvia antes se torne ainda mais negro, mas temos a certeza que um dia vimos a luz, esboçámos um sorriso.
Lindo isto =)
Ah, Patricia...
Nota-se que já acendeste... ou já decidiste acender o teu fósforo...
E conta lá uma coisa: Depois de aceso, foi mais fácil procurar nos bolsos outros fósforos para prolongar a luz?
Beijos
Rolando
Optimisticamente ele acendeu o fósforo, viu luz e continou a vê-la mesmo quando o único fósforo se apagou. Ele saberá vê-la mesmo sem fósforo. Beijos.
Isso Paula... isso sim, seria o verdadeiro final feliz.
Vou "torcer" para esse final .
Beijos
Rolando
Olá Rolando
Faz parte da minha rotina diária vir ao teu blog e é sempre com um prazer enorme que leio as tuas histórias, penso servir-me de algumas delas para o meu trabalho...posso?
Esta veio reforçar a postura que tenho perante a minha vida: arriscar, arriscar sempre, nunca lamentar por nunca ter tentado.
Muito obrigada por estares aqui.
Beijos
Manu
Oi Manu...
Eu sei que sabes o quanto me deixa feliz ver-te por aqui, não comentando por comentar... mas comentando quando queres na verdade "dizer alguma coisa"...
Por tudo isso... desejo-te uma grande, grande caixa de fósforos, toda para ti.
Beijos.
Rolando
De
Teresa a 16 de Setembro de 2009 às 22:46
Olá
Encontrei na BlogGincana tantos comentários elogiosos que tinha de vir espreitar aqui: afinal, o que diziam era verdade, os textos são cativantes e muito bem escritos. Acho que me vou tornar sua ouvinte.
Obrigada pelas histórias e... desejo-lhe uma caixa cheia de fósforos por experimentar!
Oi, Teresa...
Ainda não publiquei lá o meu nome porque ainda não consegui ler tudo o que queria dos outros blogs.
Adoro ir "cuscar" nos posts mais antigos, ver o que escreveram...
E ainda quero ler mais coisas do teu "óculos" para sentir com que cores vês tu o mundo...
Obrigado pela tua visita, espero que te sintas em casa, aqui a gente bebe café, comemos bolinhos e ... falamos, falamos pelos cotovelos.
Queres sentar-te?
Beijos
Rolando
Rolando, meu amigo!
Às vezes dá muito medo acender o único fósforo, mas se não o fizermos, como saberemos?
Eu que sou uma pessoa medrosa, gostei muito do teu conto!
Acho que preciso me arriscar mais!
Uma beijoca,
Neli
Oi, Neli...
Não és, não... eu até vi uma nova foto no perfil...
Mas sabe tão bem acender o fósforo, não sabe?
E sentir que a vida só tem sentido depois disso...
Beijos
Rolando
Beijo
Oi, flordeliz...
Aquela flor azul que enviaste ( com o beijo ) deixou uma marca azul aqui. Pronto.
E agora ?
A minha filha mais pequenina perguntou: Pai, porque tens aí uma mancha azul na bochecha? Foi a caneta?
( hahaha )
Desculpa, não resisti...
Beijos.
Rolando
Diz-lhe que: Os beijos também podem ter a cor e o feitio das flores. Que a marca "azul" é uma pétala com palavras que gostaria de ter deixado no comentário.
Diz-lhe ainda que: Tens um amigo bom chamado "pensamento" que decifra mensagens.
Obrigada
De
GiGi a 17 de Setembro de 2009 às 02:29
Bem, eu interpretei o conto de outra forma. Na verdade, uma luz que, a nosso ver, certamente levaria às trevas. Por outro lado, uma luz "proibida" e devastadora da qual o protagonista dela necessita como último recurso para dar cores à própria vida, tão mergulhada na escuridão, em demasia.
Pensei em coisas concretas, em pessoas, em um fósforo que existiu, que se destinava à realização do "proibido". Não quero retratar aqui, pois são alusões um tanto tristes as que tracei. E se são tristes é porque são reais, os fatos aconteceram. E deles já estive próxima.
O conto coube certinho ao que pensei, a certas lembranças! E isto é tão incrível... A literatura cada vez mais me encata.
Beijos!
De
GiGi a 17 de Setembro de 2009 às 02:33
Palavras-chave: sensação, êxtase, viciasse, dependente, experimentar, precioso tesouro, abismo.
Tenho certeza de que é isso!
Ah, Gigi....
É bem verdade que a vida real coloca aqui as suas "coisinhas"... e depois vemos aqui, cada um de nós, o que cada um quer ver, ou precisa de ver.
Como te compreendo...
Muitos beijos.
Rolando
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