Quarta-feira, 16 de Setembro de 2009

A luz e as sombras...

 

 

A escuridão era imensa...e as mãos tremiam-lhe, como nunca.
Um fósforo. Um simples fósforo.
 
A escuridão, para quem nunca vira a luz... não era escuridão – era simplesmente o mundo, tão real e palpável como outra coisa qualquer. Quem já experimentara a luz... dizia que não havia palavras para explicar essa sensação; as cores, as formas, as tonalidades.
Mas ele, desde sempre convivendo com a noite negra, não sabia isso. Nem conseguia imaginar ao menos esse êxtase dos sentidos... quando riscasse aquele fósforo e dali brotasse a luz.
Teve medo. Um pânico de morte, de não saber o que iria sentir a seguir. Como seria... a luz? Como seria... o seu calor, a sua claridade? Que sensações de prazer lhe assaltariam a pele?
E, pior ainda... e se ele se viciasse nessa sensação?
E se ele se tornasse um dependente da luz? O que fazer?
 
O que fazer depois, quando o único fósforo de que dispunha... se esgotasse em cinzas e ele retornasse à eterna escuridão?
 
O que fazer?
Valeria a pena?
Compensaria um breve momento de prazer absoluto... uma possível vida inteira de torpôr, de adormecimento?
 
As mãos tremiam-lhe.
E então... lembrou-se.
Alguém que lhe dissera, depois de experimentar a luz, que “ mais valia arrepender-se depois de experimentar, do que lamentar-se de nunca o ter tentado”.
 
Vagarosamente, pegou no seu precioso tesouro.
Morreria se não o tentasse.
Morreria de desejo, de ansiedade, de uma vida por cumprir.
 
Respirou fundo.
E como quem se lança do alto do abismo... acendeu o seu fósforo.

 

publicado por entremares às 14:41
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25 comentários:
De Regina d'Ávila a 16 de Setembro de 2009 às 15:37
E então......
Gostou de tudo que viu, sentiu o aconchego do calor ...se deliciou com as cores...viveu aqueles instantes intensamente... completamente...
Conheceu uma vida repleta de emoções... e não podia mais voltar para a escuridão..
Queria tudo..novamente..queria mais..e mais...
Se apaixonou pela luz...não podia mais viver sem ela...
Sabia agora o que queria...

Lindo conto Rolando...mas...e se ele não conseguir outro fósforo ( e outro..e outro) para iluminar sua vida?
Olha..a Lis disse uma coisa muito interessante no blog dela sobre o seu ...”existe uma química entre você e seus leitores”...é realmente uma grande verdade...
Parabéns!!
Beijos,
Regina.
De entremares a 16 de Setembro de 2009 às 19:47
Ai, ai, ai... Regina...

Pois aí está aquilo que mais me agrada na história... e na vida real. Só cada um saberá o que acontecerá... mas para poder saber... precisa de arriscar... e precisa de acender o fósforo, não é?

E a quimica...já tinha pensado que a gente vai tendo lugar marcado nas casas uns dos outros... até porque já intuimos que tipo de sensação vamos ter, quando visitamos um blog amigo... começamos a sentir-nos parte da mobilia... eu sinto isso...

Muitos beijos
Rolando
De Sara a 16 de Setembro de 2009 às 16:03
Bem... este conto está ou é simplesmente fantástico! No meu entender uma Metáfora fantástica... pelo menos e de acordo com a minha "vida actual" li o teu conto e um segundo simultaneamente nas entrelinhas!

Sim sem dúvida Rolando tu consegues estabelecer uma "química" entre ti e os teus leitores... por mim falo, mas a reacção química a mim sabe bem ;) caso contrário nao te lia assiduamente.

Beijinhos
De entremares a 16 de Setembro de 2009 às 19:50
Oi, Sara...

É muito saboroso, poder identificar-nos com as histórinhas... e olha que eu estou ( na vida real ) numa história mesmo, mesmo... igual a esta.

E se procurarmos bem... quantos ´fósforos não tivemos todos nós de acender, tentando sempre... não ser o ultimo?

Beijos
Rolando
De Patrícia B. a 16 de Setembro de 2009 às 18:27
Devemos sempre conhecer a felicidade e a luz quando temos oportunidade para isso. Mesmo com a certeza de que depois vamos voltar à escuridão de sempre. Talvez o negro que nos envolvia antes se torne ainda mais negro, mas temos a certeza que um dia vimos a luz, esboçámos um sorriso.
Lindo isto =)
De entremares a 16 de Setembro de 2009 às 19:52
Ah, Patricia...

Nota-se que já acendeste... ou já decidiste acender o teu fósforo...

E conta lá uma coisa: Depois de aceso, foi mais fácil procurar nos bolsos outros fósforos para prolongar a luz?

Beijos
Rolando
De Paula Raposo a 16 de Setembro de 2009 às 19:06
Optimisticamente ele acendeu o fósforo, viu luz e continou a vê-la mesmo quando o único fósforo se apagou. Ele saberá vê-la mesmo sem fósforo. Beijos.
De entremares a 16 de Setembro de 2009 às 19:53
Isso Paula... isso sim, seria o verdadeiro final feliz.

Vou "torcer" para esse final .

Beijos
Rolando
De Existe um Olhar a 16 de Setembro de 2009 às 19:28
Olá Rolando
Faz parte da minha rotina diária vir ao teu blog e é sempre com um prazer enorme que leio as tuas histórias, penso servir-me de algumas delas para o meu trabalho...posso?
Esta veio reforçar a postura que tenho perante a minha vida: arriscar, arriscar sempre, nunca lamentar por nunca ter tentado.
Muito obrigada por estares aqui.
Beijos
Manu
De entremares a 16 de Setembro de 2009 às 19:55
Oi Manu...

Eu sei que sabes o quanto me deixa feliz ver-te por aqui, não comentando por comentar... mas comentando quando queres na verdade "dizer alguma coisa"...

Por tudo isso... desejo-te uma grande, grande caixa de fósforos, toda para ti.

Beijos.
Rolando
De Teresa a 16 de Setembro de 2009 às 22:46
Olá
Encontrei na BlogGincana tantos comentários elogiosos que tinha de vir espreitar aqui: afinal, o que diziam era verdade, os textos são cativantes e muito bem escritos. Acho que me vou tornar sua ouvinte.
Obrigada pelas histórias e... desejo-lhe uma caixa cheia de fósforos por experimentar!
De entremares a 17 de Setembro de 2009 às 07:36
Oi, Teresa...

Ainda não publiquei lá o meu nome porque ainda não consegui ler tudo o que queria dos outros blogs.

Adoro ir "cuscar" nos posts mais antigos, ver o que escreveram...
E ainda quero ler mais coisas do teu "óculos" para sentir com que cores vês tu o mundo...

Obrigado pela tua visita, espero que te sintas em casa, aqui a gente bebe café, comemos bolinhos e ... falamos, falamos pelos cotovelos.
Queres sentar-te?

Beijos
Rolando
De neli araujo a 16 de Setembro de 2009 às 23:34
Rolando, meu amigo!

Às vezes dá muito medo acender o único fósforo, mas se não o fizermos, como saberemos?

Eu que sou uma pessoa medrosa, gostei muito do teu conto!
Acho que preciso me arriscar mais!

Uma beijoca,

Neli
De entremares a 17 de Setembro de 2009 às 07:38
Oi, Neli...

Não és, não... eu até vi uma nova foto no perfil...
Mas sabe tão bem acender o fósforo, não sabe?

E sentir que a vida só tem sentido depois disso...

Beijos
Rolando
De DyDa/Flordeliz a 17 de Setembro de 2009 às 00:22
Beijo
De entremares a 17 de Setembro de 2009 às 07:40
Oi, flordeliz...

Aquela flor azul que enviaste ( com o beijo ) deixou uma marca azul aqui. Pronto.
E agora ?

A minha filha mais pequenina perguntou: Pai, porque tens aí uma mancha azul na bochecha? Foi a caneta?

( hahaha )

Desculpa, não resisti...

Beijos.
Rolando
De DyDa/Flordeliz a 17 de Setembro de 2009 às 11:00
Diz-lhe que: Os beijos também podem ter a cor e o feitio das flores. Que a marca "azul" é uma pétala com palavras que gostaria de ter deixado no comentário.
Diz-lhe ainda que: Tens um amigo bom chamado "pensamento" que decifra mensagens.
Obrigada
De GiGi a 17 de Setembro de 2009 às 02:29
Bem, eu interpretei o conto de outra forma. Na verdade, uma luz que, a nosso ver, certamente levaria às trevas. Por outro lado, uma luz "proibida" e devastadora da qual o protagonista dela necessita como último recurso para dar cores à própria vida, tão mergulhada na escuridão, em demasia.

Pensei em coisas concretas, em pessoas, em um fósforo que existiu, que se destinava à realização do "proibido". Não quero retratar aqui, pois são alusões um tanto tristes as que tracei. E se são tristes é porque são reais, os fatos aconteceram. E deles já estive próxima.

O conto coube certinho ao que pensei, a certas lembranças! E isto é tão incrível... A literatura cada vez mais me encata.

Beijos!
De GiGi a 17 de Setembro de 2009 às 02:33
Palavras-chave: sensação, êxtase, viciasse, dependente, experimentar, precioso tesouro, abismo.

Tenho certeza de que é isso!
De entremares a 17 de Setembro de 2009 às 07:42
Ah, Gigi....

É bem verdade que a vida real coloca aqui as suas "coisinhas"... e depois vemos aqui, cada um de nós, o que cada um quer ver, ou precisa de ver.

Como te compreendo...

Muitos beijos.
Rolando

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