Quinta-feira, 27 de Agosto de 2009

Duelo ao sol

 

 

 

Agosto.
Uma tarde como outra qualquer - o mesmo vento seco, sibilando por entre os cactos ressequidos, o mesmo  pó do deserto já habituado às ruas, o calor tórrido queimando as sombras das poucas árvores ainda sobreviventes.
E a luz… aquele sol branco ofuscante, reflectindo os grãos de areia como espelhos polidos, rasgando os olhos já cansados do vento, sempre o vento.
Aquela hora da tarde, o silêncio era total.
 
Ajeitou o chapéu, protegendo os olhos.
Do outro lado da rua, o seu oponente imitou-lhe os movimentos, levando ostensivamente a mão à cintura; já levava o cinto rebaixado, o coldre aberto, as pernas entreabertas numa pose estudada, tantas e tantas vezes já utilizada em confrontos semelhantes.
Avaliavam-se mutuamente, receosos . Um movimento podia significar... tudo.
Tal como a mais leve distracção.
Na rua deserta, assim permaneceram de pé, imóveis como estátuas, os olhos semi-cerrados e as mãos a milimetros das coronhas das armas.
A ansiedade também mata.
 
Cansado de esperar por um deslize do adversário, tentou a sua sorte.
A mão direita voou para o coldre, adivinhando a posição da arma. Lançou-se para a direita, desviando-se da trajactória previsivel da arma do adversário, gritando:
 
- Bang, bang! Estás morto, estás morto...
 
O outro, ainda a tentar retirar a arma presa no coldre, protestava.
- Não é justo. A minha arma está presa. Assim não vale...
- Vale, sim. Deves-me 1 dólar, foi o que apostámos.
- Não, não devo nada. Temos que repetir. Eu sou mais rápido do que tu...
 
O pequeno vencedor, não contente com o desenrolar dos acontecimentos, decidiu invocar por ajuda.
- Mãe... Mãe! O Manel está a fazer batota outra vez. Eu matei-o e ele não quer morrer...
- Não estou nada...
 
Um rosto assomou a uma das janelas entreabertas da rua.
- Meninos... o que estão vocês a fazer aí fora, a esta hora? Querem ficar doentes? Não vêem o calor que está? Imediatamente para dentro de casa... Já.
Os dois irmãos trocaram um olhar de provocação, e o vencido ainda teve tempo de resmungar:
- Amanhã... à mesma hora. Quero a minha desforra...
publicado por entremares às 21:34
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21 comentários:
De DyDa/Flordeliz a 27 de Agosto de 2009 às 23:51
Acredito que o sol deste Verão anda a pregar partidas ao Rolando.
- Transportou o deserto para as ruas.
- Fez duelos com balas de "bang-bang".
- Deixou os miúdos reclamar " Eu matei-o e ele não quer morrer..."
Onde ficará esta rua em que as árvores ao contrário dos "putos" se recusam a viver?
Pois: Deve ser influência de Marte sobre a Lua. Será?
Bom início de Sexta-feira.
Beijinho

De entremares a 28 de Agosto de 2009 às 00:03
Oi, Flordeliz...

Tens razão... apanhamos muito sol e depois ficamos assim. Mas quando eu era miudo, na quinta dos meus pais... o que eu e o meu irmão não brincámos aos cowboys...

Não havia computadores, nem MP3, nem consolas... só jogos com os amigos.

Quem vai fazer hoje de Indio?
Nah... queriam todos ser cowboys...

Beijos.
Rolando

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