
Maré baixa.
Uma língua de areia branca, em forma de quarto-crescente, prolongava-se mar adentro, como um tentáculo rodeado de espuma branca.
O mar, sempre caprichoso, polvilhava de pequenas ilhas toda a bacia, durante a maré baixa, reproduzindo um rendilhado azul e branco, com as pequenas ondas a desfazerem-se em espuma em todas as efémeras praias, de encontro às rochas cobertas de lismos verdes, mexilhões e percebes.
Avançou até ao final da língua de areia. De um lado, uma quantidade infindável de pequenos seixos rolados, de todas as formas, cores e tamanhos; do outro, areia finíssima, reflectindo o sol de um branco ofuscante.
Inclinou-se e apanhou uma das inúmeras pedras.
- Tão diferentes… como é possível serem todas tão diferentes? - murmurou.
Deixou-a rolar por entre os dedos, para soltar a areia.
A pequena pedra, de forma quase esférica, parecia ter sido formada pela fusão quase perfeita de duas metades - uma completamente negra, outra de um branco imaculado.
- Que equilíbrio… - pensou para consigo próprio.
Uma onda mais atrevida veio tocar-lhe os pés descalços. As conchas mais leves, em alegre rodopio, rolaram sobre si próprias, num estranho bailado de cores… irrepetível a cada nova onda, a cada nova maré.
O apanhador de pedras guardou o seu pequeno tesouro no bolso dos calções e seguiu tranquilo o seu passeio à beira-mar.
Amanhã, numa nova maré, outra pequena pedra, de outras formas e cores, lhe chamaria a atenção. Todas tão únicas e diferentes como as dunas de areia da praia, empurradas pelo vento.
O que tinham todas elas de especial?
Nada.
Especial, quando muito… poderiam ser os olhos que reparavam nelas…
Bonito para mim... feio para ti...especial para ele...vulgar para ela...
E um olhar e um sentimento diferente para cada coisa que nos rodeia.
Não é isto o que chamamos de vida?!

É sim, isto é a vida, faz parte da vida...
Por isso é que uns pintam quadros, outros compoem poemas, outros escrevem blogs. Cada um vê a beleza conforme é...
Uma coisa é certa... nada é vulgar...
:)
Especial era o olhar...sereno...calmo..
E mais especial é alguem conseguir passar todo este sentimento para um texto tão lindo..
Parabénssssssssss.
Como sempre..
Beijosssssssssssss
Oi, Regina...
Todos somos especiais, não é ?
Cada um de sua forma, à sua maneira, construindo coisas únicas...
Mas quem repara... o que é?
Muitos beijos.
Rolando
Rolando,
Apesar do belo texto, confesso que me distraí olhando as pedrinhas coloridas... É que elas - principalmente as escuras - me levaram a um outro cenário: no filme "Alguem tem que Ceder" há um momento significativo relacionado as tais pedra escuras. Lembranças de uma mulher romântica. Perdoe-me!
Oi Julieta...
Não vi o filme, mas pelo que diz... é fácil distrair-mo-nos, não é? Principalmente com tantas " pedras coloridas " à nossa volta...
Beijos.
Rolando
De
mfc a 11 de Agosto de 2009 às 21:42
E assim é a vida... é preciso repararmos nela.
Como tudo, afinal...
Isto não é só válido para as pessoas... ou para as pedras, pois não?
:)
Revi-me neste texto.
Como adoro andar entretida a apanhar pedrinhas que o mar vai trazendo!
Sempre que o faço penso que um dia o mar me trará uma especial, muito diferente das que apanhei no dia anterior.
É também uma forma de meditação , por isso achei o tag "zen" apropriado para o momento.
Beijos
Manu
Imaginei que sim, Manu... imaginei que sim...
As pedrinhas são como tudo... ( sabias que tem umas especiais na Polvoeira? )...
Beijos.
Rolando
É o que faz do mundo um lugar muito interessante e cheio de arte, aquilo que para uns é uma simples pedra, para outros é uma jóia, e é da capacidade de olhar e ver a jóia que lá está que nasce a cultura, da sensibilidade para a saber tratar, que nasce a arte...... e felizmente, nem todos gostamos da mesma pedra preciosa...
Abraço e boa escrita
Jorge Soares
É verdade, Jorge... e como de costume... quem repara nos diamantes em bruto que andam por aí? Nem os sabem reconhecer, pois não ?
Um abraço.
Rolando
De
sonia a 12 de Agosto de 2009 às 14:03
Olá amigo...
Seus textos são fascinantes.
Seu blog,é uma verdadeira lição de vida e encantamento para mim,pois passo horas por aqui,.é como um livro, que enquanto não termino não quero fecha-lo.
Parabéns
Bjs
Soninha
Oi, Sonia...
Fico feliz que se sinta em casa, enquanto navega por estes "entremares"...
As histórias... são pormenores do quotidiano, são fragmentos de sonhos, restos de conversas inacabadas, canções à lareira... de tudo um pouco...
Beijos.
Rolando
Seu blog (e seus comentários, pelo que vi) transmitem uma atitude de paz e atenção às pequenas coisas, aos estados das pessoas. O mundo precisa muito disso, não é mesmo?
Grande abraço e obrigada pela visita.
Oi, dade... Obrigado pela visita...
Suponho que sim... que faz falta passar um pouco a ideia que "todos somos especiais"... mesmo que seja mais fácil reparar isso nos outros que em nós próprios...
Sinta-se em casa, está bem?
Um grande abraço.
De Lis a 12 de Agosto de 2009 às 19:10
Essas pedrinhas ,sempre que as encontro ,fico admirada de serem tao lisinhas, de vários tons de cinza ,branco, marrom e sempre me pergunto porque tao arrumadinhas,polidas como se fossem lapidadas por algúém. Perfeitas. Olhar a natureza é estar sempre se surpreendendo com tanta beleza! OLhar o mundo e os que nele habita, também...
Abraços
Sabes, Lis... nunca te aconteceu pegar numa dessas pedrinhas e sentir aquele peso de muitos milhares de anos, ali na palma da mão?
Quantos verões e invernos alisaram aquelas arestas?
Às vezes, penso nisso. Tu não?
Beijos.
Rolando
De
Rach a 12 de Agosto de 2009 às 23:01
Lindo. E verdadeiro, como sempre :)
Oi, Rach..
E então... já escolheste a tua "pedra" favorita?
Ou melhor... já deixaste que as tua "pedra" te encontrasse?
Beijos.
Rolando.
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