- O 21… vai sair o 21…
Aquela voz continuava a martelar-lhe o espírito, podia ouvi-la distintamente. Uma voz masculina, muito calma e serena, daquelas vozes hipnóticas em que é impossível não acreditar.
Olhou para as fichas que tinha na mão. Uma miséria.
Portanto… perdido por cem, perdido por mil… se havia uma voz do Além a aconselhá-lo a jogar… que tinha ele a perder?
Perder mais já era quase impossível.
Colocou uma ficha de 50 sobre a casa 21.
Um minuto depois, ainda estava de boca aberta, a tentar compreender o sucedido. Pois então não saíra mesmo o 21, e a sua mísera ficha de 50 não se havia transformado miraculosamente num bom punhado de fichas de 500 ?
- O 34… agora vai sair o 34…
Novamente a voz. A mesma voz hipnótica, talvez já não tão calma, percebia-se até um leve entusiasmo.
Desta vez, ele já nem se preocupou em tentar compreender. Para quê?
Alguém iria acreditar que uma voz do Além lhe estava a segredar os números vencedores da próxima roleta? Se nem ele próprio acreditava…
Com um sorriso nos lábios, empurrou um punhado de fichas para a casa 34.
- 3000 no 34 – quase que gritou, entusiasmado. – Hoje é o meu dia…
Os jogadores ao lado olharam-no pelo canto do olho. Claro, todos os dias aparecia sempre alguém assim, a pensar que era o seu dia…. E depois saíam dali todos de bolsos vazios, com uns copos a mais, a reconhecer que talvez afinal se tivessem enganado no dia, nos sinais…. outro dia seria…
Mas aquele dia… era mesmo o dia.
- Sai o 34… único vencedor, o senhor do colete azul, a aposta de 3000 é vencedora…
Gritos de espanto, alegria.
Os curiosos avolumam-se por todos os lados, rodeiam o felizardo.
- O 7… a próxima é o 7…
A voz do Além, antes calma e serena, transparecia agora um tudo nada de ansiedade, nervosismo até.
Ele compreendia. Mesmo ele, com os pés na terra, mal conseguia fazer as contas de cabeça, a digerir o chorudo prémio que acabara de receber, quanto mais pensar … não, não conseguia fazer a conta…
- Aposto tudo no 7… – gritou, provocando um “Oh” de espanto generalizado.
O funcionário do casino, já por demais habituado a cenas semelhantes, permaneceu impávido, a mesma voz fria do costume.
- Aposta única do cavalheiro de colete azul… 66.750 apostados no 7…. Vai rodar…
A bolinha de madeira rodopiou de novo sobre a roleta. Um silêncio angustiante pairava sobre a mesa… à medida que a bolinha perdia velocidade, cada vez mais lenta, aos saltos entre os números…. 18… 7… 24… 7… até que se deteve.
- Sai o 8… - exclamou o funcionário do casino. – Nenhuma aposta vencedora, sai à banca… meus senhores, podem fazer as vossas apostas…
Ele ficou a olhar para a roleta, atordoado.
O que estava a acontecer?
Como era possível?
- Que droga… pensei mesmo que seria o 7… - falou novamente a voz do Além, dentro da sua cabeça, novamente com o mesmo tom calmo e sereno de sempre.
. Sinais
. O rei morreu... Viva o re...
. Fé