Quarta-feira, 29 de Julho de 2009

A voz do Além

 

- O 21… vai sair o 21…

Aquela voz continuava a martelar-lhe o espírito, podia ouvi-la distintamente. Uma voz masculina, muito calma e serena, daquelas vozes hipnóticas em que é impossível não acreditar.

Olhou para as fichas que tinha na mão. Uma miséria.

Portanto… perdido por cem, perdido por mil… se havia uma voz do Além a aconselhá-lo a jogar… que tinha ele a perder?

Perder mais já era quase impossível.

Colocou uma ficha de 50 sobre a casa 21.

 

Um minuto depois, ainda estava de boca aberta, a tentar compreender o sucedido. Pois então não saíra mesmo o 21, e a sua mísera ficha de 50 não se havia transformado miraculosamente num bom punhado de fichas de 500 ?

- O 34… agora vai sair o 34…

Novamente a voz. A mesma voz hipnótica, talvez já não tão calma, percebia-se até um leve entusiasmo.

Desta vez, ele já nem se preocupou em tentar compreender. Para quê?

Alguém iria acreditar que uma voz do Além lhe estava a segredar os números vencedores da próxima roleta? Se nem ele próprio acreditava…

Com um sorriso nos lábios, empurrou um punhado de fichas para a casa 34.

- 3000 no 34 – quase que gritou, entusiasmado. – Hoje é o meu dia…

Os jogadores ao lado olharam-no pelo canto do olho. Claro, todos os dias aparecia sempre alguém assim, a pensar que era o seu dia…. E depois saíam dali todos de bolsos vazios, com uns copos a mais, a reconhecer que talvez afinal se tivessem enganado no dia, nos sinais…. outro dia seria…

 

Mas aquele dia… era mesmo o dia.

- Sai o 34… único vencedor, o senhor do colete azul, a aposta de 3000 é vencedora…

Gritos de espanto, alegria.

Os curiosos avolumam-se por todos os lados, rodeiam o felizardo.

 

- O 7… a próxima é o 7…

A voz do Além, antes calma e serena, transparecia agora um tudo nada de ansiedade, nervosismo até.

Ele compreendia. Mesmo ele, com os pés na terra, mal conseguia fazer as contas de cabeça, a digerir o chorudo prémio que acabara de receber, quanto mais pensar … não, não conseguia fazer a conta…

 

- Aposto tudo no 7… – gritou, provocando um “Oh” de espanto generalizado.

O funcionário do casino, já por demais habituado a cenas semelhantes, permaneceu impávido, a mesma voz fria do costume.

- Aposta única do cavalheiro de colete azul… 66.750 apostados no 7…. Vai rodar…

 

A bolinha de madeira rodopiou de novo sobre a roleta. Um silêncio angustiante pairava sobre a mesa… à medida que a bolinha perdia velocidade, cada vez mais lenta, aos saltos entre os números…. 18… 7… 24… 7…  até que se deteve.

 

- Sai o 8… - exclamou o funcionário do casino. – Nenhuma aposta vencedora, sai à banca… meus senhores, podem fazer as vossas apostas…

 

Ele ficou a olhar para a roleta, atordoado.

O que estava a acontecer?

Como era possível?

 

- Que droga… pensei mesmo que seria o 7… - falou novamente a voz do Além, dentro da sua cabeça, novamente com o mesmo tom calmo e sereno de sempre.

 

publicado por entremares às 15:58
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10 comentários:
De DyDa/Flordeliz a 29 de Julho de 2009 às 18:17
São poucas, muito poucas, as minhas idas ao casino.
Fico hipnotizada, fascinada, nervosa, ansiosa... pela facilidade em descarregar em cima de mesas com números, “montanhas” de dinheiro.
Em minha casa não vejo no fim do mês entrar um volume do tamanho de grande parte das apostas.
Jovens. Mesmo muito jovens. Há velhos. Muito velhos.
Como? Onde? Ou de onde, aparece tanto dinheiro?
Fico por ali a saltaricar de mesa em mesa, tento adivinhar através das expressões o que lhes vai na alma, o que os move.
Vou pensando: Mas, ele vai levantar mais para perder? Mas, ele vai voltar a jogar? Mas, ele voltou ao caixa?! Não!!!
Sim! Mais um monte carregado no número desta mesa e na outra, e na outra, como se estivessem a trabalhar. Mais uma vez ganhou numa perdeu nas outras todas.
Pela lógica quando alguém perde, alguém devia ganhar!
Ou será que são sempre "os mesmos" a serem donos da sorte?!
Claro! Negócio não é sorte. É negócio!
E a voz: ENGANA-SE VEZES DEMAIS
De entremares a 29 de Julho de 2009 às 18:55
Oh, flordeliz, como tens razão... vezes demais.
É algo que não pratico, as idas ao casino.

Com ou sem vozes do Além...

Beijos.
Rolando.
De Paula Raposo a 29 de Julho de 2009 às 21:15
Quando se trata de jogo eu penso que as vozes do Além não existem mesmo...beijos.
De entremares a 30 de Julho de 2009 às 10:51
Olá Paula...
Pois... jogo é jogo, simplesmente.
Sorte ou azar ( se é que isso existe )

Beijos
De Existe um Olhar a 29 de Julho de 2009 às 22:13
Tantas histórias ouvimos de gente que perdeu tudo por causa do jogo! Eu conheço alguns casos de famílias riquíssimas que de um momento para o outro ficaram na miséria, talvez por isso, das raras vezes que fui a um casino, nunca consigo entrar na sala de jogo, fico deveras impressionada.
A tua história de hoje , infelizmente , não é fantasia, é uma dura realidade.
Beijos
Manu
De entremares a 30 de Julho de 2009 às 10:52
Olá, Manu

Eu também conheço histórias dessas... e infelizmente, continuam a acontecer, com ou sem culpa das " vozes do Além"...

Beijos.
Rolando
De Graça Pires a 29 de Julho de 2009 às 22:38
Obrigada pela visita e pelas palavras deixadas no meu "Ortografia". Virei mais vezes.
Um abraço.
De entremares a 30 de Julho de 2009 às 10:53
Olá, Graça

Obrigado eu, pela visita.
Senta-te e estás em casa.

Abraços.
De Jorge Soares a 29 de Julho de 2009 às 22:48
Quando estive em Macau andei por alguns dos maiores casinos do mundo, fartei-me de andar.... e de ver dinheiro, muito dinheiro a mudar de mãos.... mas não me lembro de ouvir voz nenhuma... só belos e tentadores sorrisos orientais a acenarem com cartas .... deve ter sido por isso que não gastei nem uma pataca por lá.


Mais um belo texto
Abraço amigo

Jorge Soares
De entremares a 30 de Julho de 2009 às 10:54
Olá Jorge...

Macau? Que inveja, adorava conhecer...
Já tinha ouvido falar que o jogo ali é "coisa forte" e portanto imagino a quantidade de histórias a que dará origem...

Um abraço.
Rolando

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