Segunda-feira, 27 de Julho de 2009

Era uma vez um Mestre - II

 

 

Certo dia, o rei requisitou a presença do Mestre à sua presença.
- Vossa majestade… - cumprimentou o Mestre, com um vénia - chamaste-me à vossa presença…
- Chamei sim, Mestre… preciso de um conselho vosso… vinde, vamos caminhar um pouco…
Saíram os dois para o jardim.
- Mestre… -começou o rei - já me conheceis há muito tempo… e sabeis que tenho tentado, ao longo de toda a minha vida, fazer o melhor para o reino…
- É verdade, majestade… temos vivido tempos de grande prosperidade…
- Sim, Mestre… prosperidade… e também paz. Os campos são generosos, o gado aumenta a cada dia que passa, os aldeões não passam fome… mas não é sobre isso que preciso do vosso conselho…
O Mestre sorriu, como se quisesse transmitir-lhe algo.
- Mas também suponho que havíeis percebido isso…
- Majestade… não seria correcto da minha parte antecipar-me às vossas palavras…
Foi a vez do rei se deixar rir, bem disposto.
- Mestre… na verdade, vós sois… único. Mas adiante… não vos quero tomar mais tempo que o necessário… preciso da vossa opinião sobre a minha sucessão…
- Um assunto delicado, majestade…
O rei perdeu o sorriso. A sucessão ao trono era, na verdade, um assunto delicado. Não por deixar em causa a continuação da linhagem ou a segurança do reino… mas simplesmente por ter que decidir entre quais dos seus dois filhos gémeos… pesaria o fardo da coroa.
- São os dois uns óptimos filhos… ambos plenos de virtudes e bons amigos… o que me deixa deveras apreensivo… necessito da vossa opinião, Mestre…
- Majestade… não sei como vos poderei ajudar, em tão delicada escolha… mas decerto haveis já reflectido bastante sobre o assunto…
- Reflectir? Mestre… se houvera uma guerra com algum dos nossos vizinhos, eu entregaria de olhos fechados o reino ao príncipe Alberto, o melhor cavaleiro que este reino já conheceu… mas se precisasse de transformar uma ruína num palácio, ou multiplicar uma semente por cem… eu escolheria sem a menor dúvida o príncipe Damião…
- Uma escolha difícil, majestade… uma vez que as virtudes se completam…
- Mestre… se eu pudesse … ambos são o sucessor perfeito… e ainda por cima, são excelentes amigos, para minha paz e fortuna.
O Mestre sorriu de novo, e estendeu o dedo na direcção do rei.
- Majestade… vós sois na verdade deveras perspicaz… acredito que já haveis descoberto a vossa resposta…
- Já descobri? Mas eu…
O mestre continuou a sorrir, os olhos brilhantes. O rei deixou-se contagiar por aquele brilho e passando a mão pela barba grisalha, murmurou:
- Mestre… creio que me haveis dado uma excelente ideia…
 
O mestre abanou a cabeça, afirmativamente. Afinal de contas, que importância teria de onde partisse a ideia?
- Majestade… sempre haveis sido um monarca justo e sensato … nunca duvidei que a vossa escolha fosse a mais sábia …

 

 

 

publicado por entremares às 10:20
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6 comentários:
De DyDa/Flordeliz a 27 de Julho de 2009 às 13:01
Possas...
Ou vais continuar para eu saber o resto, ou eu perdi alguma coisa.
O brilho (vitória) do olhar do mestre deixou-me confusa, confesso!...
Ai..ai...ai...tu e os reinados!

De Regina d'Ávila a 27 de Julho de 2009 às 13:59
Se um dia quis ser rainha...não sei..mas depois deste seu conto, me dou por satisfeita por ser plebeia..simplesmente..
Que dúvida...eu jamais teria a resposta.
Olha..amigo..passei pelo blog da Deusa..e também deixei uma taça para brindarmos..kkkk
Linda semana,
Super beijossss
De Jorge Soares a 27 de Julho de 2009 às 17:05
Eu estou como a Flor.. .acho que me falta a mestria toda... porque não percebi nada.

Abraço
Jorge
De entremares a 27 de Julho de 2009 às 17:38
Ora, ora... vocês são terríveis...
A ideia era dar a entender que o rei já sabia antecipadamente a resposta, sem o querer reconhecer para si próprio, daí necessitar do "empurrão" do Mestre.
O que o rei decidiu ... isso só ele sabe. Mas foi ele que chegou à conclusão que nem sempre temos que optar entre duas coisas óptimas. Nesses casos temos é que tentar aproveitar as duas...

Ou seja, escrevi esquisito, já percebi...
De saltapocinhas a 28 de Julho de 2009 às 00:59
Eu posso ter percebido tudo mal, mas não achei esquisito...
Achei que esse rei queria fazer assim uma espécie de "bloco central", juntando os 2 filhos num governo. Cada um com as suas capacidades, juntos seriam imbatíveis.

Transpondo isto para a política actual, um "bloco central" seria excelente se os políticos fossem todos pessoas de bem, se pusessem os interesses do país à frente dos seus interesses, compadrios e tachos.

Era tão bom, não era?
De Existe um Olhar a 28 de Julho de 2009 às 10:03
Quantas guerras se teriam evitado ao longo da nossa história, se de vez em quando acontecessem diálogos sábios como este que acabei de ler!
Esta podia bem ser mais uma "estória" da nossa história.
-Não achais que tenho razão senhor?
Beijo
Manu

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