
- O chá está pronto... – gritou uma voz, ao longe.
Só podia ser a “sua” Alzira.
Como conseguia ela ainda gritar com aquela energia, apesar dos anos?
- Já vou, querida... já vou...
Voltou a contemplar o imenso móvel de carvalho, de prateleiras escuras repletas de pequenos frascos de vidros, fazendo lembrar as farmácias do antigamente, um boticário ou, quem sabe, o recanto perdido de algum alquimista.
México, Cuba, Honduras, Brasil, Tunisia, Japão...
Em cada frasquinho, uma pequena etiqueta com o nome de um país – todos alinhados, sem nenhuma ordem em especial.
E, no interior de cada frasquinho... areia.
Desde muito jovem que calcorreava o mundo, no principio de mochila às costas, depois no conforto de outros transportes, substituindo a velha tenda azul de campismo pelos hotéis de algumas estrelas. Primeiro, também sózinho. Depois, a dois.
Durante sessenta anos... percorrera todos, mas mesmo todos os países do mundo; alguns até mais que uma vez. E de todos eles trouxera um pouco do próprio país, uma pequeno punhado de areia, areia branca e de muitas outras cores, de praias, dos desertos, das montanhas, da selva – do mundo inteiro.
Num dos extremos da prateleira, um dos frasquinhos exibia orgulhoso : “ Londres, 1949 “
A sua primeira viagem... a sério.
Já lá iam... sessenta anos.
E agora? Bem... mais uns meses e completaria os oitenta, um número mágico; redondo.
A sua Alzira, quase dez anos mais jovem, provara o sabor das viagens pelo casamento... uma semana no interior de Marrocos, lembrava-se como se tivesse sido ontem...
E a última... a última viagem terminara na semana anterior, regressados de Timor, o último destino.
Sensação estranha, a de poder dizer que já pisara o chão de todas as nações do mundo. E, no entanto, a sua prateleira de frasquinhos de vidro ainda continuava incompleta.
Faltava colocar o frasquinho que, precisamente naquele momento, segurava na mão, ainda vazio.
Faltava a areia de... do seu próprio país. Nunca a colocara na prateleira, vá lá saber-se porquê. Hoje seria o dia.
- Alberto... olha que o chá arrefece... – voltou a “sua” Alzira a gritar.
- Já vou, já vou...
Ergueu-se do sofá e de frasquinho de vidro na mão, abandonou a sala. A areia, tirá-la-ia do quintal, talvez do canteiro dos cactos.
O último frasquinho.
Mas primeiro, o chá.
A sua Alzira, apesar da idade, ainda não lhe tolerava atrasos.
- Já aqui estou, querida... já aqui estou...
E nesse último frasquinho que falta encher, completa-se um ciclo. Gostei muito de te ler. Beijos.
Obrigado Paula...
É verdade, foi o final de um ciclo. Talvez fosse esse o objectivo da vida dele, quem sabe?
Beijos.
Um boa semana
De
Murilo a 19 de Julho de 2009 às 09:36
Olá!
Aqui quem fala é o Murilo (http://www.blogger.com/profile/08304270672111408576), dos blogs Palavras de Osho (http://www.palavrasdeosho.com/) e Os nascimentos das palavras (http://osnascimentosdaspalavras.blogspot.com/).
Assim como você e dezenas e dezenas de outros amigos blogueiros, eu participava das blogagens coletivas do Tertúlia Virtual (http://tervirtual.blogspot.com/), belíssimo projeto de promoção de blogagens coletivas que infelizmente chegou ao fim em julho de 2009.
Para mim, a inicitativa do Tertúlia (http://tervirtual.blogspot.com/) foi responsável pela realização de muitas das melhores blogagens coletivas da blogosfera em língua portuguesa.
A idéia de a cada mês reunir blogueiros em torno de um tema foi tão bem-sucedida que não podemos deixá-la morrer.
Para colaborar, lancei o Vou de coletivo! (http://voudecoletivo.blogspot.com/)
Todo dia primeiro do mês será proposto um tema para ser abordado por blogueiros por meio de textos, imagens, vídeos e o que mais a criatividade permitir.
Assim que o tema do mês é apresentado, é aberta uma lista de inscrições. Basta você inscrever sua postagem que automaticamente será inserido um link para ela na relação de participantes. As inscrições ficam abertas o mês todo.
E você, gostou da idéia? Espero que sim!
Então não vamos perder o embalo. Logo sai o primeiro coletivo de 2009! Clique aqui e acesse o Vou de coletivo! (http://voudecoletivo.blogspot.com/)
Abração!
De
Sara a 19 de Julho de 2009 às 17:40
e será que o frasquinho correspondente ao seu país ainda estaria vazio, porque... inúmeras pessoas nunca dão valor ao sítio onde vivem e excelente país que têm ou... porque, deixamos sempre para amanha aquilo que podíamos fazer hoje?
Um beijo
Oi, Sara...
Perguntas bem, nem sei como responder.
Ambas estão certas, creio. Deixar para o fim o melhor... e adiar o que tem que ser feito.
Beijos.
De
GiGi a 19 de Julho de 2009 às 19:24
Que coisa mais linda...
Não é que não damos valor de onde somos ou moramos. Apenas, em meio a tantas novidades e descobertas, apenas nos esquecemos de apreciar nosso lar, justamente porque nunca nos demos por falta dele. Natural.
Que bom que a senhorinha em questão soube apreciar o seu lar... O seu chá!
Beijos!
Oi, Gigi.
Como diz aquele ditado " Lar, doce lar"
Não há melhor local, pois não? A nossa casa...
Beijos.
Uma óptima semana para ti
Por vezes o que mais amamos é o que fica para o fim, ou de tanto o vermos não lhe damos a devida importância.. mas mais vale tarde que nunca
Abraço e boa semana
Jorge
Meu caro Jorge,
Provavelmente, somos todos um pouco assim, não é? Perdemo-nos na busca de muitas coisas... que até podem estar bem ao nosso lado, debaixo dos nossos olhos...
Um abraço.
Bom trabalho.
De
Anad a 20 de Julho de 2009 às 00:25
Meu amigo, vou de férias e só volto no início de Agosto. Tudo de bom e luminoso para ti.
Beijinhos
Anad
Anad, vou ficar com inveja, e com saudades.
Portanto, só posso desejar...
UMAS ÓPTIMAS FÉRIAS.
Beijos.
Até Agosto.
Caro Rolando,
É que quando a gente é moço, cheio de energia, e o corpo aguenta, acaba se aventurando por terras distantes...
...e então deixa-se para colher a areia do nosso próprio quintal quando já não se tem aquele vigor e já fica difícil afastar-se de lá...
Gostei muito!
Aliás, gosto demais dos teus escritos. Parabéns!
neli
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