
Sonhador_28 acreditava que sim.
Joaninha_azul também.
Conheceram-se num fórum, quando ambos pesquisavam quais os melhores alimentos para os periquitos, a sua paixão comum.
Depressa descobriram, para além do nome das sementes preferidas dos pequenos pássaros coloridos, muitas outras coisas… comuns.
Sonhador_28 depressa se transformou em José Maria… e a Joaninha_azul… em Maria de Fátima; ele, ainda inexperiente na criação dos pequenos pássaros, ela já cheia de truques e pequenas artimanhas.
- Mas tu não sabes que a primeira coisa a fazer é colocar os poleiros de madeira? – foi logo a primeira reprimenda – os coitadinhos detestam aquelas coisas de plástico…
O José Maria não sabia. Como também não sabia que os periquitos apreciavam bastante um bom banho, ou umas folhas suculentas de alface. A Maria de Fátima, é claro, já sabia tudo isto… e lá foi retransmitindo a sua ladainha de conhecimentos ao seu jovem amigo e parceiro de conversas da Internet.
Claro que o tema dos periquitos depressa se esgotou e logo passaram para divagações mais interessantes… e foi então que descobriram possuir muitos … mas mesmo muitos gostos em comum.
Ela era gémeos de signo, criativa, eloquente nas palavras, um humor que desarmaria a mais sisuda das criaturas. Ele, sagitário, fogoso e irreverente, rebelde, idealista. Ela perseguia uma alma gémea que nunca encontrara. Ele acreditava numa alma gémea que ainda não procurara, na esperança de tropeçar nela, num acaso do dia-a-dia.
Nunca trocaram fotografias. Ela não queria deixar-se influenciar pela beleza dele, dizia.
Ele dedicava-lhe poemas de amor.
Primeiro... uns breves minutos defronte do computador... depois aquela angústia da distância, a solidão da espera. Ambos em Lisboa, ambos anónimos no meio da multidão... quem sabe, talvez até já se tivessem cruzado na rua, um dia qualquer...
Combinaram encontrar-se. Na esplanada da avenida. Num domingo de manhã.
Ele iria de verde, ela de branco. Ambos levariam debaixo do braço uma agenda vermelha, tomariam um café, ficariam a conhecer-se, cara-a-cara... e logo se veria...
Os dias passaram, ao ritmo costumeiro, excepto para os amantes adiados, a quem o tempo nunca chega. Mas finalmente...
Galgou os ultimos degraus da escadaria do metro, desembocando directamente na avenida, a poucos passos da esplanada. Apertou com força a agenda vermelha, debaixo do braço. E se ela não estivesse lá? E se tivesse mudado de ideias? E se?
Um turbilhão de ideias desconexas inundou-lhe o espirito.
Não.
Devia afastar os pensamentos... todos os pensamentos. Seria alta? Baixa? Loura, ruiva, morena? Bonita? Simpática? Sensual? Magra, roliça, gordinha?
Como deixar de pensar?
Acercou-se do local combinado, aquela hora, quase vazio.
Uma... duas... três mesas ocupadas – um casal de namorados, um grupo de turistas, com aspecto de alemães, uma senhora, já de certa idade. Onde estaria a Maria de Fátima?
- Ainda bem que cheguei mais cedo... – deu consigo a murmurar sózinho... assim perceberei logo ...
Sentou-se numa das mesas vazias, entre o casal de namorados e a senhora já de certa idade.
Colocou a agenda vermelha em cima da mesa. Quando Maria de Fátima se aproximasse... saberia logo a quem se deveria dirigir...
- José Maria?
Virou-se para o lado, à procura. Não dera pelo aproximar de ninguém, mas a voz soara estranhamente próxima.
- José Maria?
Os olhares encontraram-se.
- De..deve... ser... engano...
Ela sentou-se no lado oposto da mesa, o olhar brilhante e inquiridor.
- José Maria... és mesmo tu? Essa agenda vermelha...
Ele engoliu em seco, e de repente o mundo desabou-lhe sobre os ombros, soterrando-o sem apelo.
- S... So...sou... sou... sou. Sou mesmo eu... e a ... a senhora... é...
A senhora já de certa idade, que estivera sentada por um bom par de minutos na mesa ao lado, sorriu maravilhada.
- Sim... sou eu... Maria de Fátima...
Olharam-se demoradamente, analisando a estranha situação.
Ele nunca lhe dissera a idade... 27 anos... nascido a 30 de Novembro... ela também não .... 72 anos... nascida a 31 de Maio...
Foi ela que finalmente rasgou o silêncio.
Então, José Maria... diz-me lá... ainda acreditas na alma gémea?
De linda a 17 de Julho de 2009 às 22:11
Muito interessante. Gostei mesmo...às vezes a nossa alma gémea está onde menos pensamos...
Bom fim de semana
Olá, Linda...
Acredito que tenhas razão... a alma gémea rtalvez esteja do outro lado do espelho... e por isso, nunca a conseguimos descobrir...
Um óptimo fim-de-semana.
De
libel a 17 de Julho de 2009 às 22:50
Almas gémeas, a realização de um relacionamento perfeito...isso existe??..Temos que pensar que sim!!.Nem que seja por momentos, sonhar é bom, alcançamos algo, dá-nos força e motivação, ao sonhar acreditamos que pode ser possível.
Bonita história para uma noite fria.
Libel... força e motivação?
Sim, creio que sim... grande parte do que vemos nos outros é o nosso próprio reflexo, não é o que dizem?
Um óptimo fim-de-semana... ( e sem frio )
De
GiGi a 18 de Julho de 2009 às 00:23
Mas, o que são "almas gêmeas"? Iguais na aparência, diferentes no coração?
:-)
GiGi...
E se for diferentes na aparência... mas iguais no coração?
Beijos.
Bom fim-de-semana
O espelho reflete certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo.
Este "Caeiro" era um génio e é por isso que o admiro -ahahahahah
- Não somos espelhos, não é? Pensamos e erramos! E até mesmo quando olhamos com atenção escapam-nos pormenores...
Esperemos que continuem "gémeos" na piriquitada. ahahahahahah

Olá, flordeliz...
Pensar é essencialmente errar...
Pois é. E por isso mesmo é tão "saboroso", tão único...
O espelho só reflete, não acrescenta nem retira nada, enquanto que o olhar...
Beijos.
( Tenho que ir dar alface aos meus periquitos )
De
Sara a 18 de Julho de 2009 às 07:59
Almas gémeas no coração , no pensamento, nos gostos... a aparência e a idade são apenas pormenores!
O que interessa é amar! É óbvio que se for uma pessoa bonita, jovem e dinâmica as coisas se podem vir a tornar mais fáceis, mas... já dizia o velho ditado português : "Quem o feio ama, bonito lhe parece!".
E nas coisas do amor... não existem limites de idade! ;)
Oi, Sara... como tens razão... a idade e a aparÊncia...
pequenos pormenores.
Se estivesses todos de olhos fechados, como seria?
Como faríamos para nos achar "atraentes"?
Beijos.
Um óptimo fim-de-semana...
Ah....a idade... que vive a nos espreitar...
Será que não faz diferença?? Poderá existir trocas?
Mas "alma gêmea" de espírito, de alma? Ou de prazer, desejo, paixão?
Existem amizades que são verdadeiras "almas gêmeas" e assim, nada importa.
Acredito no amor, seja espiritual, real, virtual, carnal...
Você sempre nos fazendo refletir...kkk
Lindo fim de semana!!
Super beijossssssssss
Rê.
Ah, Regina, o tempo...
Qual de nós é que sabe lidar com o tempo?
Ele só vai passando, mais forte que tudo, concedendo-nos sómente duas respostas; Ou aceitá-lo ou ignorá-lo.
Os sentimentos, esses sim... sobrevivem ao tempo.
Beijos.
Um óptimo fim de semana para você.
Constroiem-se sonhos, vivem-se ilusões, até ao dia em que numa esplanada ou noutro lugar qualquer se descobre que em comum apenas tinham as palavras.
Beijos
Manu
Olá, Manu
É sempre mais fácil viver a realidade de olhos fechados? Ou talvez seja mais fácil "pintar" um quadro, sem a preocupação de saber se ele é real ou não...
Até nos aproximarmos de uma esplanada qualquer...
Beijos.
Rolando
Recentemente regressado de férias, verifiquei que tinha visitado o meu Rochedo durante a minha ausência. Venho agradecer e retribuir a visita. Quanto à opinião que tenho do seu blog, está expresa no post que hoje escrevi lá no Rochedo.
até breve
Dizem que o que os olhos nao veem, o coração não sente. Então por que o coração costuma sentir, sendo que os olhos não estão a ver?
Adorei o post. E eu acredito sim, em alma gemea!
Não acho que a beleza seja tão importante. O que importa mesmo, é a sintonia das almas...
Obrigada pela visita e pelas palavras!
beijo!!
Obrigado, Nahira, pela simpatia.
Acredito que lá no fundo, todos procuramos algo, que nem precisa de ter nome. Algo que complete o puzzle, o quadro.
Vale a pena acreditar, não é?
Beijos.
Um bom fim de semana para você.
Queria ter a alma dos poetas..
ter sua áurea , mais pura..
Saber escolher as palavras..
e tocar fundo o coração dos amigos
como você faz com o meu.
Amo seus comentários..
Meu muito, muito obrigada,
Regina.
De Maria a 18 de Julho de 2009 às 23:08
Está tudo dito, sublime!
(A sua história, do(a) Pato(a), no blogue "Fábulas", acendeu a minha curiosidade e valeu bem a pena - virei visitá-la mais vezes e obrigada)
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