
- Mãe... prometes não ficar zangada?
A mãe olhou para ele, quase encolhido à beira da porta. Não vinha dali boa coisa, pensou.
- Zangada? Bem... depende, não é? Deveria ficar zangada?
O filho acenou afirmativamente com a cabeça.
- ... Recebemos hoje os resultados daquela prova... lembras-te ? ... Aquela da composição...
- A composição? Claro que me lembro... foi das poucas ocasiões em que eu te vi a estudar...
- Pois... mas olha... a turma toda, não fui só eu... os resultados, sabes...
- Desembucha, filho, que me estás a deixar nervosa. Mas afinal o que aconteceu?
- Eu tive... zero.
A mãe abriu a boca de espanto. Seria possível conseguir “zero” numa composição em Português ? Pelo menos a caligrafia bonita do filho deveria merecer alguns pontos de bónus...
- Zero? – repetiu ela – Como assim, zero? Como é possível apanhar zero a redigir uma composição ? Tiveste assim tantos erros?
O filho abanou a cabeça, derrotado.
- Eu... eu... não conseguia pensar em nada...
- Mas filho... tu estudaste tanto... todos aqueles autores que a professora disse que eram importantes... eu vi-te sempre agarrado aos livros... o que é que correu mal?
- ... Foi o tema, mãe, foi o tema... não saiu nada daquilo que a gente estava à espera...
- O tema? Então qual foi o tema que saiu? Se foi alguma coisa que vocês ainda não falaram, eu vou lá à escola e faço...
- O tema, mãe... era Tema Livre.
- Tema Livre? Então vocês podiam escrever sobre o que quisessem?
O filho concordou, sem palavras.
- E tu... tu não escreveste nada?
- Não... nem uma palavra... só de pensar que não era nada que eu tivesse estudado... fiquei... petrificado.
E correndo para a mãe, agarrou-se-lhe à cintura, a cara escondida no avental, uma lágrima rebelde a assomar ao canto dos olhos...
De
libel a 13 de Julho de 2009 às 10:47
Normalmente as histórias são formas suaves de chamarmos a atenção sobre os problemas, ou de fazer recomendações, ou de fazer ver o bem e o mal, às crianças, mas o mais engraçado é que nós adultos (eu por exemplo)...fico fascinada com qualquer história, seja ela encantada ou não!!..pois aprendemos imenso com elas.
Olá libel, bemvinda a esta "folha em branco"...
É verdade, as histórias não são só para as crianças... mas se com as histórias, pudermos ir "despertando alguma coisa" dentro de cada um... então já valeu a pena.
Uma óptima semana.
Que visita agradável e "compreensiva"... Seja sempre bem vindo!!!
abraços
Patricia
Obrigado, Patricia, pela simpatia.
Será sempre bemvinda.
Uma óptima semana para si.
Lindo, inteligente,reflexivo...esse texto fala muito, as vezes quando a vida nos da asas, temos medo de voar, essa foi a msg q esse texto me passou.
Vim te agradecer o carinho do lindo texto q vc postou pra mim, a historia da pricesa Aurora, as vezes temos realmente q ter coragem para mudar o rumo da nossa historia. Obrigada ta! amei !!sua participação foi muito importante pra mim, seus textos me tocam profundamente.bj*
Tal como a princesa Aurora, só espero que possamos todos modificar o nosso "quase destino". E espero que possamos fazer da folha em branco a melhor das pinturas...
Todos merecemos, não é?
Beijos. Volte sempre.
De
Picos a 13 de Julho de 2009 às 15:19
“Estaremos assim tão mal na arte de improvisar?”
“É verdade, a sede de "papéis em branco" é enorme. O mundo tem demasiadas cores para que andemos sempre a repetir histórias a preto-e-branco...”
Neste momento estou como suplente aos Exames de hoje e veio uma colega de departamento pedir-me material de desenho/pintura para um aluno que veio fazer o exame de Desenho A. Pergunto-me, será que veio improvisar a arte da ausência?
Respondo, tudo é Arte, tudo é cor, só precisamos de Luz seja ela natural, artificial ou de uma “LuZ criativa”!
Sede de “Papeis em branco”, também é uma excelente visão, quando podemos ter, ou melhor quando a vida nos permite novas oportunidades, sabendo em consciência que o difícil é desfrutar do “novo momento em branco”…. Que bom é Criar!
Que bom ler-te.
Beijos
Como tens razão... " Que bom é criar"...
A magia está no acontecer, naquele clique mágico de quando se toca a "luz", quando pousamos o lápis no papel e os olhos brilham, antecipando o prazer da criação.
Prazer imenso, este...
Volta sempre.
De
Sostrova a 13 de Julho de 2009 às 15:35
A Liberdade é um desafio dos mais dificeis de vencer!!!! Mas mesmo assim vale a pena.
A Liberdade?
E existirá melhor aroma que a Liberdade?
Obrigado pela visita.
De
Sara a 13 de Julho de 2009 às 16:55
Pois é incrível como por vezes nos sentimos intimidados por uma folha em branco ou por podermos dar "asas á nossa imaginação "!
A sociedade de hoje infelizmente está demasiadamente esquematizada , no sentido em que somos desde tenra idade "programados"/ensinados a agir de uma certa forma... até ao momento em que nos dão a liberdade de nos exprimir livremente e muitos acabam por bloquear :(
Aproveito para confessar... que adoro folhas em branco ;) por vezes podem intimidar-me ou deixo-me intimidar por elas... mas quando dou largas á minha imaginação e deixo as palavras soltas no bico da caneta... é difícil parar!
E prontos já me estou a esticar no comentário, mas aproveito para te dar os "Parabéns" por tantas opiniões de pessoas amigas que recebeste neste post :D
Um beijo
Oi Sara, bemvinda ao cantinho das " folhas em branco"...
E concordo contigo, às vezes são um pouco intimidantes... mas vou confessar-te uma coisa; eu sei que todos nós temos "manias"... é certo, pronto, uma das minhas é não resistir a comprar cadernos, blocos de notas, canetas, muitas canetas... enfim...
Mas depois de começarmos... é dificil de parar de escrever, não é?
Beijos.
Rolando,
Este seu post está perfeito para o Tertúlia deste mês (última Tertulia que será depois de amanhã),pois como é Tema livre..está todo mundo perdido...kkkkkkk...hahahahaha
Bjssssssssssssssssss
Oi, Regina... agora é que você me "encrencou"... ainda não tinha pensado no assunto... mas tenho que reconhecer... que você está cheia de razão...
Que melhor post para o tema livre da tertúlia que o Tema livre?
Beijos.
PS. E o seu texto da tertúlia, já tem ideia do que vai ser?
Não..estou exatamente igual ao seu personagem..kkkkk
Perdidinha...kkkk...hahahahaha
"Não... nem uma palavra... só de pensar que não era nada que eu tivesse estudado... fiquei... petrificado."
Estou petrificada..kkkkkk
Super beijossssssssssssssss
De Óscarito a 13 de Julho de 2009 às 17:34
A surpresa de uma situação destas está onde? em quê?
Há quantos anos as crianças estão habituadas a ver bonecada em vez de ler? E de pensar? E de fazer cálculos com maquinetas em vez de "espremer as meninges"?
As brincadeiras (de rua e outras) são substituídas pelas MSN's, mesmo que habitem lado a lado. E até nas mensagens têm uma escrita própria por dá muito trabalho escrever uma palavra completa e correcta numa frase também correcta.
Por estas (e outras) razões é que não me surpreende o que expões neste teu post!
Abraço/Oscar
Oi, Óscar, sejas bem aparecido...
Às vezes, ponho-me a pensar em estratégias.... o que teria eu que inventar, se fosse um professor da escola primária... e não sei bem o que faria. O que farias ?
Como estimular a criatividade das crianças? Como deixá-las desejosas de riscar "folhas em branco" ?
Aceitam-se sugestões, não é ?
Um grande abraço.
De
Priscila a 13 de Julho de 2009 às 18:19
Muito obrigadapela sua visita, adorei o tesouro de texto que me deixou lá, agradeço muito!
Oi, Priscila, obrigado pela sua visita também.
Volte sempre.
De
miriam a 13 de Julho de 2009 às 18:59
Que lindo conto!
Desde pequeno não sabemos o quye fazer com a liberdade!
Ou ainda com o vazio?
E tem tambem quem mal entende...
Fez-me lembra, o dia ao buscar meu filho mais novo no colegio, chega todo alegre com a prova de matematica onde tirou nota 3.
_ E isso é nopta boa, meu filho?
_ Claro, mãe. Nas outras, tirei zero. Nesta acertei 3 questões, dizia ele todo feliz.
Tive que concordar.
Tudo é uma questão de ponto de vista!
beijos de além mar.
Miriam
Miriam... depende sempre do ponto de vista, não é?
E as crianças estão sempre a surpreender-nos com os seus pontos de vista ( o seu filho também, já percebi )
Ainda bem que há criatividade.
Beijos.( cá deste lado )
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