- Pai…
- Hum… sim, filho ?
- É verdade que todos temos um preço?
- Um preço?... Que conversa é essa ?
- É só para saber, pai… foi uma conversa que tivemos numa aula… sobre a ambição. A professora disse-nos que todos os homens têm um preço…
- Isso é conversa fiada, filho… Nem todos os homens têm um preço…
- Mas alguns têm, não é ?
- Alguns… sim, suponho que sim, suponho que muitos tenham um preço…
- E tu, pai ?
- Eu o quê, filho ?
- Tu tens um preço ?
- Claro que não. Eu sou um homem honesto. Os homens honestos não têm preço…
- Pai…
- Sim, filho ?
- É verdade que vais trocar de emprego ?
- Quem te disse isso ?
- Ninguém me disse… ouvi vocês os dois a conversar ontem à noite na sala…
- Ah, bom… sim… é provável, sim… talvez possa vir a trocar de emprego…
- Mas tu não gostas do emprego que tens agora ?
- Se não gosto ? Mas é claro que gosto… e muito. É dos empregos em que posso dizer que gosto daquilo que faço… e sou muito bom naquilo que faço…
- Então porque vais trocar de emprego ?
- Porquê ? Ora… porque me estão a oferecer melhores condições…
- Condições ? E isso é o quê, pai ? O teu ordenado ?
- Sim, também é o ordenado… Mas não só, também vou ter outras regalias…
- Como por exemplo ?
- Por exemplo… vou poder andar com o automóvel da empresa… dão-me um telemóvel… pagam-me melhor as horas extraordinárias… e acho até que vou ficar a trabalhar num escritório na sede da empresa, no alto do arranha-céus, com uma vista incrível…
- Num escritório ? Mas tu sempre me disseste que detestavas escritórios, tu gostas é de andar cá fora…
- Pois… lá isso é verdade… mas sabes, filho, para a gente subir na vida, há sempre um preço a pagar, não é ?
- Ah… afinal estou a começar a perceber melhor a professora…
- Como assim, filho ?
- … a professora… aquilo de todos os homens terem um preço, lembras-te ? Eu não a percebi bem na aula, mas agora creio que já estou a entender… obrigado, pai…
- Ahn … de nada, filho… de nada…