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Poderia o verde dos campos ser composto de tantos verdes, de tantas tonalidades?
Podia… podia sim; e quente, afagado pelas brisas mornas do sul.
Tal como o céu, liquido de uma mistura de cores impossível de descrever. Seria azul, branco, cinzento? Talvez um pouco de tudo, espuma de cascatas, reflexos do sol poente, flores silvestres.
Ao fundo, os recortes ondulantes dos morros, enfeitando a paisagem.
E até onde a vista alcançasse… o silêncio natural do vento a abanar as folhas das árvores.
O relógio da torre fez-se então ouvir. Solene, indiferente à data.
Uma, duas, três…
Meia-noite.
Uma simples mudança de dia, uma simples mudança de ano. Porquê então no peito aquele aperto… como se a própria vida lhe quisesse saltar para longe?
Todas as noites não eram iguais? Em todas elas o relógio não batia as mesmas doze badaladas? Então porquê? Porquê aquela ansiedade?
Quatro, cinco, seis…
Recordou, como num sonho longínquo, algumas datas da adolescência já distante, agarrando freneticamente a garrafa de champanhe, os olhos postos num qualquer relógio, à espera do mágico momento em que os sonhos se cumpriam. Quantos desejos subiam aos céus, nessas noites? Quantos apelos mudos, quantas vozes caladas, quantas velas se acendiam na promessa de um novo amanhecer, de um novo ano pleno de felicidade e arcos-iris coloridos?
Sete, oito, nove…
O que desejava ele para os instantes que se seguiriam? O futuro?
O mesmo que todos os restantes mortais - ser feliz, ser simplesmente feliz.
Que mais se pode desejar do futuro, senão uma dose generosa de felicidade?
Dez, onze… doze…
Os foguetes explodiram na noite, enchendo os céus de luzes e estrondos. Gritos, pessoas a correr pelas ruas, música, uma imensidão de buzinas, archotes, balões, serpentinas a voar.
Ano novo.
Sorriu e lançou mais algumas achas para a fogueira.
A noite estava fria - como todas as noites de ano-novo, já era habitual.
À volta da enorme fogueira, bem no centro da praça principal, uma roda de rostos silenciosos fitava as chamas, indiferentes ao ribombar dos festejos.
- Que fotografia é essa? - quis saber o homem que estava ao lado, observando com curiosidade a imagem das montanhas verdes que ele segurava nas mãos.
- Esta?... é muito longe daqui… você não conhece…
O outro fez que sim, claro que não deveria conhecer. Subiu o casaco até às orelhas, para se proteger do vento.
- Pelo menos, lá deve estar calor… - resmungou - bem melhor do que isto…
Ele não lhe respondeu.
Limitou-se a olhar de novo para a fotografia.
- Para o ano… - prometeu a si próprio - … para o ano…. Estarei aí…
. Sinais
. O rei morreu... Viva o re...
. Fé