Com as mãos trémulas, abriu o pequeno embrulho, já sabendo antecipadamente o que iria encontrar. Não era a primeira vez, nem a segunda, nem a terceira… que lhe chegava às mãos um pacote como aquele, afunilado, envolto em papel acastanhado, pejado de selos de um país bem distante.
Sem querer, os olhos desviaram-se até ao fundo da sala onde, sobre uma velha mesa de tampo de madeira, um jarro avermelhado ostentava meia dúzia de tulipas amarelas, algumas delas já a murchar pelo efeito do tempo.
Quantas tulipas amarelas já recebera?
Quanto tempo já passara, desde a separação, a despedida, o choro e as lágrimas?
Como se houvera sido no dia anterior.
Ela terminara com tudo.
E no entanto, como evitar aquele sobressalto no coração, sempre que os dedos acariciavam as pétalas macias, como evitar aquele nó da garganta ao sentir o aroma da primavera exalado pelas flores? Como evitar tudo?
Como calar todos os pensamentos?
Naquele dia, o embrulho surpreendeu-a.
Vinha vazio, sem qualquer flor no seu interior.
Sem querer, franziu a testa de desapontamento. Um gesto ínfimo, involuntário, de desencanto, de incompreensão. O pacote vinha vazio - custava-lhe a aceitar o facto.
Não, não vinha completamente vazio. Um pequeno papel, cuidadosamente enrolado, espreitava sob o celofane que habitualmente embrulhava todas as flores que recebera.
Pegou nele e levou-o para junto da janela. Nunca nenhuma das flores se fizera acompanhar por qualquer tipo de recado, de cartão. Nada.
Leu-o. Um, duas, três vezes. E novamente.
" Estou à tua porta, segurando na mão uma tulipa amarela. Queres vir recebê-la nas tuas mãos? "
Espreitou pela janela e viu-o, do outro lado da rua, segurando uma tulipa amarela, envolta por um plástico transparente.
Por um simples e infinito segundo, o tempo recuou e ela esqueceu-se de tudo, até de quem era. E muito simplesmente…. Chorou.
. Sinais
. O rei morreu... Viva o re...
. Fé