Quinta-feira, 30 de Julho de 2009

Um dia que mudou o mundo...

 

- Atenção… inicio da contagem decrescente…

 

Aproximava-se o grande momento. Durante os últimos cinco anos, treinara afincadamente todos os pormenores, estudara todas as variáveis, todas as sequências, todas as hipóteses de falha, todas as simulações possíveis. Treinara o corpo e o espírito, dominara a ansiedade, a falta de sono, o cansaço, a fome e a sede. Dominara a angústia, a claustrofobia, a solidão da família, o vazio dos espaços fechados.

Ultrapassara todas as provas.

 

- 10… 9… 8…

 

O que sentia naquele preciso momento? Impossível de descrever. Dentro de breves instantes, o Homem libertar-se-ia do seu berço, rasgaria os céus e tentaria alcançar a lua, a mesma lua que todas as noites lhe povoava o espírito de sonhos e desejos antigos… desde criança.

Por isso se tornara astronauta. Para um dia poder tocar a lua, libertar-se do seu próprio peso e flutuar no vazio, poder ver ao longe o planeta azul, poder contemplar o nascer do sol de um modo que ninguém até então poderia imaginar.

Era esse o objectivo da sua vida. Sempre fora.

 

- 7… 6… 5…

 

Ao longo do rio, uma multidão ansiosa aguardava o momento, aquele momento mágico em que um clarão enorme ofuscaria tudo e todos, para que logo depois se pudesse observar a ascensão do enorme foguete, rumo ao azul escuro das estrelas.

 

- 4… 3… 2… 1… Ignição…

 

O ruído foi tremendo. Uma trepidação que se propagava pelas paredes, pelo chão, uma onda de choque acompanhada de uma claridade irreal, de um branco cego.

Vagarosamente, a nave equilibrou-se sobre si própria, rugindo e vomitando o fogo dos infernos. Depois partiu, ganhando velocidade e altura, um ponto luminoso cada vez mais distante no céu, uma coluna de fumo branco a assinalar a fuga dos primeiros homens para o espaço.

 

Baixou a cabeça.

A imagem do televisor continuou imperturbável, mas ele já nem a via.

Durante os últimos cinco anos, fora astronauta, treinara aquele momento como o mais importante de toda a sua vida. Sabia todas as sequências do arranque, sabia exactamente o que os colegas estariam a fazer, dentro da Apollo 11, naquele mesmo instante.

Secretamente, desejou … o inconfessável; que algo sucedesse à equipa principal, que algum dos colegas adoecesse, que não conseguisse ultrapassar alguma prova… qualquer coisa que permitisse que ele e os restantes elementos da equipa substituta… pudessem assumir o papel principal… e rumar à Lua.

 

Não o conseguiu.

Continuou a ser o comandante da equipa substituta, a entrar no simulador e a realizar todos os testes, todas as provas… mas nunca… nunca chegaria a tocar a lua.

 

- Boa sorte, rapazes… - ainda conseguiu murmurar – tragam-me uma pedrinha da lua…

publicado por entremares às 11:39
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De Óscarito a 31 de Julho de 2009 às 18:31
Ao ler o teu post não deixo de pensar o "curioso" que é para mim, a lua.
Porque nunca a penso como um satélite mas mais como "uma coisa" que ali está e que interessa (ou nem por isso...) especialmente aos namorados ou a alguns poetas.
Porque para todos eles, uma "ida" à lua não carece de foguetões nem de técnicas espaciais.
Basta-lhes o pensamento!
Abraço/Óscar.
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